Desastres são tema de estudo feito há sete anos por Núcleo da UFSCar

Editoria: Vininha F. Carvalho 31/08/2012

No Brasil, mais de 95% de todos os desastres que acontecem são relacionados à água, sendo que a maioria são causados por estresse hídricos, como a seca ou a estiagem prolongada, que afeta o abastecimento de água para população, para os animais e compromete o solo.
Os outros desastres são relacionados às chuvas intensas ou prolongadas, causando deslizamentos, enchentes, inundações e rompimentos de barragens.

Para entender melhor os problemas causados por esses desastres foi implantado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) o Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres (Neped).

O Núcleo surgiu como um subtema do Grupo de Pesquisa "Sociedade e Recursos Hídricos" criado em 1995, vinculado ao Departamento de Ciências Sociais (DCSo) da UFSCar.

Em 2003, o Neped era conhecido como Grupo de Estudos e Pesquisas em Desastres (Geped), mas, devido ao seu forte crescimento, desde 2005 se tornou um Núcleo, vinculado ao recente Departamento de Sociologia (DS) da Universidade que, atualmente, é composto por mais de 20 pesquisadores e há sete anos estuda desastres relacionados à água, como inundações, rompimentos de barragens e enchentes.

Segundo a fundadora e coordenadora do Núcleo, a docente do Departamento de Sociologia da UFSCar, professora Norma Valêncio, o Neped inaugurou no Brasil uma outra abordagem de desastre que conta com a contribuição da Sociologia.

A ideia não é entender o desastre pela desorganização dos elementos materiais numa certa circunscrição espacial, mas sim a partir da estrutura da dinâmica social em que o desastre é uma ruptura da rotina de um certo grupo social em uma circunscrição espacial.

"O desastre é algo que desarruma a interação social", resume Norma. O Neped busca entender o ponto de vista dos indivíduos prejudicados para saber quais são as estratégias recuperativas necessárias que devem ser utilizadas pelos órgãos estatais e pela ação voluntária na resolução do problema.

"Muitas das formas de reorganização do território que são feitas pelo ente público ou por voluntários violentam essas pessoas e são feitas dentro de uma ética que não sintonizam com a ética desses grupos. Por isso, o Neped faz uma leitura desde dentro desse sujeito, da sua composição social, suas formas de interação, suas regras e normas para encontrar qual é o meio mais eficiente de ação daqueles que têm a missão institucional de resolver o problema", explica Norma.

Um evento é considerado desastre quando acontece algo que gera a desorganização da rotina ou do cotidiano dos envolvidos. "Os desastres devem ser analisados de maneira particular; não existe uma fórmula, pois cada indivíduo é diferente, cada grupo é diferente", declara Norma.

De acordo com a docente, o objetivo do Núcleo é qualificar as informações que as instituições federais possuem sobre determinado desastre, traduzindo como as pessoas de determinado local ficaram afetadas pelo ocorrido, para que o ente público aprimore a sua prática ao lidar com os grupos afetados.

"Nós conseguimos decodificar os sintomas dos afetados pelos desastres e eles sempre nos retornam endossando aquilo que levantamos. Isso é gratificante", afirma.

Para Norma, muitos desastres no Brasil acontecem sempre no mesmo lugar, pois possuem o mesmo fator de ameaça e com isso acabam afetando o mesmo grupo de pessoas. "Se as pessoas afetadas e o local são sempre os mesmos, não tem a ver só com a parte socioambiental, mas sim com a gestão pública", define Norma.

Os desastres estão cada vez mais catastróficos, devido ao descompasso entre a forma de planejamento e atuação dos entes públicos que precisam lidar de maneira preventiva e comparativa frente aos fatores de ameaça.

"O Estado não está sintonizado entre conteúdo informativo e articulação e os grupos de ação não estão resolvendo o problema da melhor maneira para a população", ressalta Norma.

O Neped tem pesquisadores trabalhando no Brasil inteiro para gerar o melhor tipo de subsídio ao ente público e à sociedade, mas não possui o apoio necessário para fazer um trabalho ainda maior e melhor. Na visão de Norma Valêncio "falta motivação, pois as instituições não dão a importância devida a esse tipo de trabalho".

Além dos trabalhos feitos em vários locais do País, o grupo também promove cursos para entes públicos, promotores do Ministério Público, agentes da Defesa Civil de vários Estados, gerando discussões sobre a visão orientadora da Sociologia nos Desastres e mostrando a importância do estudo e do trabalho na área.

Em 2009, o Núcleo fundou a disciplina "Sociologia dos Desastres" para a graduação e pós-graduação em Ciências Sociais e Sociologia da UFSCar. Na disciplina são realizados projetos de extensão com crianças do Ensino Fundamental de escolas públicas e particulares, através de atividades interativas para que eles possam entender o que é desastre e jogos cooperativos orientando qual o melhor planejamento territorial para evitar as catástrofes.

Realizam também a capacitação de órgãos de Defesa Civil nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, e prestação de serviços como assessoria a conselhos profissionais, como ao Conselho Federal de Psicologia, gerando subsídios para psicólogos atenderem pessoas que foram afetadas em desastres, principalmente os catastróficos.

O Neped já publicou quatro livros específicos sobre desastres: "Abandonados nos desastres"; "Sociologia dos Desastres I e II"; e "Para Além do Dia do Desastre".

No próximo mês de setembro será lançado o livro "Sociologia dos Desastres III". Todos os livros contêm orientações teóricas de como resolver problemas gerados pelos desastres.

Fonte: Patrícia Lelli / UFSCAR

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