Estamos sem água, e parece que vamos ficar sem luz. E agora?

Editoria: Vininha F. Carvalho 26/01/2015

“O decrescimento é uma proposta alternativa para a política pós-desenvolvimento. Sua meta é uma sociedade em que se viverá melhor trabalhando e consumindo menos.” Serge Latouche

Diante do cenário policrísico que atravessamos, não enxergo neste momento outra saída para o capitalismo a não ser o decrescimento sereno. Já estamos vivendo uma era de incertezas e escassez que nos obriga a repensar a maneira como vivemos.

Em São Paulo, onde resido atualmente, sentimos na pele o calor excessivo, a falta de água com o rodízio velado em bairros da periferia e falta de energia elétrica, resultado das mudanças climáticas que são ocasionadas pela sociedade dos excessos.

Em maio de 2014, o professor José Goldemberg já alertava sobre a falta de energia elétrica no Brasil: “Corremos o risco de apagões elétricos e isso é evidente, só o ministro da energia não vê isso… ou está tentando empurrar o problema para o ano que vem baixando a tarifa de energia”.

O professor ainda fez um alerta sobre a pane nos sistemas das hidroelétricas e comentou que as termoelétricas, naquela época, já operavam acima da capacidade. E agora? Segundo o relatório “Mudando a atmosfera: Antropologia e Mudança climática”, disponível no site da American Anthropological Association, psicólogos consideram que os mecanismos cognitivos e emocionais influenciam a percepção, e isso já havia sido anunciado por Edgar Morin e Frijot Capra,devido à crise de percepção em função da visão mecanicista da vida e da incapacidade de a ciência enxergar a vida como sistemas.

A questão em jogo é que a falta e o excesso de informações levaram a sociedade científica e os tomadores de decisões globais a diferentes interpretações sobre o fenômeno das mudanças climáticas.

O resultado desastroso é que ainda hoje existem certos grupos que acreditam que os estudos sobre as mudanças climáticas são exagerados ou mesmo que o fenômeno não existe.

Isso acontece por alguns motivos: o nosso imprinting cultural, a normatização excessiva,a visão de mundo ocidentalizada, que analisa as crises apenas sob os aspectos econômicos, reflexo da visão fragmentada entre natureza e cultura. Por isso, é tão difícil abandonarmos certos padrões mentais e comportamentos repetitivos e até mesmo perversos – pessoa que persiste no erro, teimosa, que ignora as evidências, que se desvia do certo e do verdadeiro.

É o efeito recursivo de como agimos. Isso se espelha na sociedade e talvez seja por isso que não consigamos alcançar padrões de comportamentos que nos levem à sustentabilidade.

Não encaro o consumo como o único vilão dessa história, mas a arrogância e os modos de vida desde a modernidade, que separou natureza e cultura e atribuiu ao homem o falso poder de controlar a vida e os fenômenos da natureza. Somos frutos da artificialidade que nós mesmos criamos, e isso é fácil de entender: basta acessarmos o Facebook e nos depararmos com as mentiras que contamos sobre nós mesmos.

Mesmo assim, como sou esperançosa, acredito que muitas bifurcações nos levarão às regenerações e metamorfoses múltiplas e simultâneas, que nos colocarão novamente em reconexão com a tríade perdida indivíduo-espécie-sociedade e nos trarão um novo modo de vida em que nossos valores serão revitalizados, recontextualizados e reeditados para o bem da era planetária. É preciso ecologizarmos as ideias.

Ecologizar significa reaprender a pensar!

Fonte: Vivian Aparecida Blaso Souza Soares Cesar - Docente na FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado. Doutoranda e Mestre em Ciências Sociais. Pesquisadora do Complexus Núcleo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP