Projeto transforma Cidade de Goiás em destino cultural de sucesso

Editoria: Vininha F. Carvalho 17/02/2006

Diz a lenda que atrás do arco-íris existe um pote de ouro. Esse tesouro só será encontrado por pessoas curiosas e interessadas em descobrir e vivenciar experiências novas e diferentes. Essa metáfora inspirou a comunidade da Cidade de Goiás, localizada a 120 quilômetros de Goiânia e a 300 de Brasília, na elaboração do projeto que a transformará num novo destino turístico do País.

O objetivo do projeto é revelar as atrações da cidade que, apesar de já existirem, ainda são invisíveis aos olhos dos turistas. Essas atrações estão contidas atrás das fachadas do casario, igrejas e monumentos da ex-capital do Estado de Goiás.

O "Projeto Cidade de Goiás na Ponta do Arco-Íris" integra o Movimento Brasileiro de Turismo e Cultura (MBTC). o projeto foi apresentado no II Encontro Anual do MBTC, que ocorreu dentro da segunda edição do Fórum Mundial de Turismo para a Paz e Desenvolvimento Sustentável ou Destinations2005.

O MBTC teve o objetivo de desenvolver e fortalecer atrações turísticas baseadas na cultura local. Atualmente o Movimento atua em sete novos destinos turísticos a serem implantados no País, até o próximo ano. São eles: Aracati (CE), Cidade de Goiás (GO), Bonito (MS), Penedo (AL), Centro Histórico de Salvador (BA), Diamantina (MG) e Santa Teresa (RS). Ministério do Turismo, Fundação de Turismo pela Paz e Desenvolvimento Sustentável, Instituto de Hospitalidade (IH) e Sebrae são parceiros desse Movimento, que tem como meta implantar 24 novos destinos turísticos no País, até o fim de 2006.


Goiás reinventado

O Projeto Cidade de Goiás na Ponta do Arco-Íris foi iniciado em março do ano passado e é fruto de um processo de construção participativa, que envolveu os moradores da cidade. Os aspectos culturais, artísticos, naturais, históricos e lúdicos compõem o projeto.

Cinqüenta novos produtos foram mapeados e criados pela governança local durante vários encontros e reuniões, que contaram com o apoio do Sebrae em Goiás. Os novos produtos turísticos estão voltados para as baixas temporadas, nos períodos de março a junho e de agosto a novembro.

"São produtos que já existem, mas que ainda não são visíveis, e podem prolongar a estada de turistas na cidade", explica Décio Tavares, gerente da Unidade de Cultura e Turismo do Sebrae em Goiás. "A população está vibrando com o projeto", acrescenta. Cinqüenta pessoas estão diretamente envolvidas no desenvolvimento do projeto.

Um dos produtos do projeto Cidade de Goiás na Ponta do Arco-Íris é o roteiro "Lá em Casa". Trata-se de um cardápio de visitas a casas antigas, com quintais e pomares imensos, que nunca foram visitados antes por turistas. Os visitantes poderão conhecer e participar do cotidiano dos moradores da cidade, acompanhando desde o café da manhã, almoço até o jantar em casas diferentes.

A degustação e apreciação dos quitutes, bebidas, livros e até brincadeiras das crianças, que ainda acontecem nas ruas e quintais, também integram o "Lá em Casa". Os turistas poderão vivenciar a produção de doces e licores típicos da região nas cozinhas das casas participantes desse roteiro. O roteiro "Lá em casa" deverá estar implantado até o fim deste ano, informa o gerente do Sebrae.

Outro produto do projeto é o turismo de aventura. Cidade de Goiás está a 16 quilômetros do Parque Estadual Serra Dourada, onde várias atrações serão implantadas para os fãs das atividades esportivas movidas à adrenalina. Caminhadas em trilhas, percursos para mountain bike, rafting, entre outras, estão previstas nesse produto do projeto. No momento, existe apenas o bóia-cross nos rios da região.

A expedição "Cores de Goiandira" será uma atração que somará as belezas naturais do Parque Estadual Serra Dourada aos belos quadros da famosa artista plástica da Cidade de Goiás. Os visitantes iniciarão o dia conhecendo as trilhas e areias coloridas da montanha preservada e finalizarão o roteiro na casa de Goiandira do Couto, atualmente com mais de 80 anos. A artista receberá os visitantes e fará uma palestra sobre a história da Cidade de Goiás, contará causos e falará de sua vida e obra.

Já o roteiro "Barroco e Veiga Vale" será composto por uma oficina de criação de imagens de santos e estátuas de barro e pedra-sabão, abundantes na região. Artesãos da cidade vão ensinar antigas técnicas de pintura e escultura aos interessados dentro das igrejas. Essa atração aumentará a consciência cultural e a importância da estética e será uma ação de educação patrimonial, segundo o gerente do Sebrae goiano.

A tematização das pousadas e hotéis da cidade é considerada outro elemento importante do Projeto Cidade de Goiás na Ponta do Arco-Íris. Por meio da parceria com artesãos locais, será incentivada a adoção das belas cerâmicas da cidade como utensílios nos empreendimentos, que também os colocarão em exposição e à venda. O uso de colchas de retalho, imagens de santos e cortinas de tear na decoração dos hotéis e pousadas deverão valorizar as tradicionais artes manuais locais.


A maldição do colar azul pombinho

A poesia de Cora Coralina também está presente no Projeto Cidade de Goiás na Ponta do Arco-Íris. A maldição do colar azul pombinho será uma atração especial, que abordará um fato, que talvez tenha ocorrido no fim do século XIX, e que foi tema de um poema da famosa poetisa da cidade. Essa história foi passada de geração em geração e deverá se transformar em peça teatral e ser encenada no teatro ou nas ruas para os turistas.

Em 1888, ano da abolição da escravatura no Brasil, o pai de uma noiva de família abastada da então Vila Boa de Goiaz, teria encomendado um aparelho de jantar de porcelana chinesa para as bodas de casamento que, após enfrentar navio, trem e lombo de burro, chegara quase inteiro ao seu destino.

No longo percurso, uma das peças se quebrara. Seus cacos teriam encantado uma empregada da casa do rico senhor, que os aproveitara transformando-os num lindo colar. A serviçal teria sido muito castigada pela mãe da noiva, quando vira o colar em seu pescoço. Cora Coralina eternizou essa estória no poema "A estória do aparelho azul pombinho".

"Além da peça de teatro sobre esse caso, a idéia é comercializar cópias dos pratos desse aparelho de jantar de porcelana chinesa, que ainda existe", revela Décio. A maldição do colar azul pombinho deverá se transformar em peças de cerâmica, souvenirs, colares, entre outras, e trarão trechos do poema de Cora Coralina.


Um pouco da história da Cidade de Goiás

Cidade de Goiás é a segunda denominação dessa importante cidade histórica brasileira e certamente uma das mais significativas da região Centro-Oeste. Até 1818, chamou-se Vila Boa de Goiaz, quando foi elevada à condição de capital do Estado. Seus habitantes são chamados de vilaboenses, até hoje.

Em 1942, quando deixou de ser a capital do Estado de Goiás, devido à transferência para Goiânia, a cidade e sua população entraram numa espécie de crise existencial. Foi como se tivessem deixado de constar do mapa. Nessa época, a cidade passou a ser denominada como Goiás Velho, considerada uma conotação negativa por seus moradores.

Sómente após a inauguração de Brasília, Cidade de Goiás foi redescoberta. Os novos moradores do Planalto Central passaram a freqüentá-la. Assim começou uma nova etapa de sua história. Os vilaboenses reencontraram sua identidade e valor histórico.

Na década de 60, seu casario, igrejas, monumentos, belezas naturais e cultura começam a encantar o Brasil e são tombados como patrimônio goiano e nacional. Em 27 de junho de 2001, Cidade de Goiás é tombada como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco.





Fonte: Sebrae