Salvador quer democratizar os lucros do Carnaval

Editoria: Vininha F. Carvalho 24/02/2006

O Carnaval de Salvador é considerado uma das maiores manifestações da cultura popular. A festa tem início na quinta-feira e termina somente na quarta-feira de cinzas, levando milhões de pessoas às ruas embaladas por uma mistura de ritmos, comandada pelo axé music. Com esse estilo todo próprio de fazer Carnaval, Salvador movimenta de forma significativa a economia, mas importa de outros estados muitos bens e serviços.

De acordo com a Empresa de Turismo da Bahia S/A (Bahiatursa), o Estado deve receber mais de um milhão de turistas durante o Carnaval. Desse total, 470,6 mil vão para Salvador. Os números representam crescimento de 8% em relação ao ano passado. Ainda segundo dados da Bahiatursa, a estimativa de gasto médio diário do turista nacional que vai para Salvador é em torno de US$ 60 e, para o estrangeiro, US$ 100. Esses gastos são com hospedagem, restaurantes e serviços.

Essas projeções indicam uma receita de US$ 176 milhões com o turismo nessa época do ano, sendo US$ 95,7 milhões só para a capital. No total, a festa popular movimenta em torno de R$ 600 milhões na cidade, considerando as compras de alegorias, fantasias, adereços e outros itens, informa o secretário municipal de Economia, Emprego e Renda, Domingos Leonelli. Apesar da expressividade dos números, boa parte dessa renda não fica em Salvador, pois muitos itens são adquiridos em outros centros do País.

Para ampliar a economia do Carnaval para o município, a prefeitura, junto com instituições parceiras, entre elas, o Sebrae, desenvolve ações para “internalizar mais os resultados econômicos e estimular os pequenos negócios nesse período”, informa o secretário Leonelli.


Fábrica do Carnaval incentiva produção local e gera empregos:

Neste ano, um dos projetos desenvolvidos em Salvador (BA) é a Fábrica do Carnaval, uma reivindicação da própria comunidade local. Além da geração de emprego e renda, a iniciativa busca fortalecer os setores que inspiram a festa popular no Estado, os blocos afro. “Esses grupos perderam o espaço econômico no Carnaval na Bahia”, afirma o secretário municipal de Economia, Emprego e Renda, Domingos Leonelli.

A Fábrica do Carnaval é uma experiência-piloto, fruto de um convênio entre a prefeitura e a Companhia de Docas do Estado da Bahia (Codeba), com apoio de entidades carnavalescas, pequenas empresas, instituições financeiras e Sebrae. Instalada em um galpão de 2,5 mil metros quadrados, ao lado do Mercado Modelo, em Salvador, abriga cerca de 30 unidades produtivas para a confecção de fantasias, estamparias, sapatos, adereços e outras peças de decoração do Carnaval e gera cerca de 500 ocupações.

O galpão da Fábrica do Carnaval abriga costureiras, artesãos, designers, estilistas, sapateiros e outros profissionais para a fabricação de vestimentas, fantasias e adereços. Além disso, é uma grande oportunidade para micro e pequenas empresas, pois o espaço é um ponto de venda e divulgação dos produtos, já que a área onde a fábrica está localizada recebe grande número de turistas, principalmente, na época do Carnaval.

O Sebrae participa oferecendo orientação em gestão e comercialização. A idéia, segundo o coordenador do Projeto Varejo Vivo do Sebrae na Bahia, Adriano Câmera, é fazer com que haja circulação e apropriação da renda dentro da cidade.

“Muitos produtos tipicamente baianos, como a fitinha do Bonfim, são confeccionados fora de Salvador. Pretende-se, com a Fábrica do Carnaval, beneficiar e incentivar a produção local, com profissionais baianos”, disse.


Espaço cidadão:

Para o presidente do Bloco Cortejo Afro, Alberto Pitta e Silva, a Fábrica do Carnaval é mais do que um espaço de geração de emprego e renda. “É também de criação, onde podemos pensar a estética do Carnaval”, afirma Pitta, que é artista plástico.

As fantasias do Cortejo Afro serão confeccionadas dentro da Fábrica do Carnaval. Além disso, o bloco vai estar no local produzindo material para outros blocos que não têm dinheiro para contratar um profissional de design ou artes plásticas. “O objetivo maior é poder pensar diferente”, resume o artista.

O presidente da Associação de Afoxés da Bahia e do Bloco Afro Filhos do Congo, Ednaldo Santana dos Santos, explica que os presidentes de entidades carnavalescas foram os responsáveis pela indicação das costureiras da comunidade para o espaço. Ednaldo, mais conhecido como ‘Nadinho do Congo’, conta que os custos para os foliões podem cair entre 20% e 30%, com a Fábrica do Carnaval.

Além da confecção para os blocos afro, os empreendimentos instalados na Fábrica do Carnaval já têm como encomenda as fantasias do Bloco da Cidade, grupo organizado pela Prefeitura de Salvador. Foram encomendadas 2,5 mil fantasias de Pierrot, Alerquim e Colombina, 2,5 mil camisetas de ambulantes e mais de 4 mil coletes de cordeiros.


Ambulantes recebem apoio para lucrar com Carnaval

Organizar, profissionalizar e dar qualidade ao serviço dos ambulantes que vão atuar no Carnaval de Salvador. Essa é a idéia do ‘Projeto Ambulantes Carnaval 2006’, uma ação para capacitar os empreendedores baianos.O trabalho é realizado em conjunto pela Secretaria Municipal de Serviços Públicos, Banco do Nordeste, Sindicato dos Ambulantes e Sebrae na Bahia.

Cerca de 4 mil ambulantes foram cadastrados pela prefeitura e estarão identificados para trabalhar no Carnaval. A expectativa do Sebrae é que, pelo menos, mil ambulantes recebam o treinamento, que começou a ser oferecido no dia 30 de janeiro e prossegue até 10 de fevereiro. Instrutores do Sebrae e Senac ministram palestras sobre gerenciamento de pequenos negócios e manipulação e tratamento de alimentos para os ambulantes credenciados pela secretaria municipal.

Maria Helena dos Santos, 68 anos, é uma ambulante que já recebeu treinamento. Segundo ela, toda capacitação é importante para o trabalho, pois traz conhecimento e oferece mais chances de aumentar a renda. Maria Helena trabalha com a venda de acarajés, bebidas e outros alimentos. Ela conta que tudo que tem na vida veio do trabalho como ambulante. “O trabalho é bom. Foi o que me deu condições de ter minha casa própria”, afirma.

De acordo com a coordenadora do Núcleo de Acesso a Serviços Financeiros do Sebrae na Bahia, Dora Parente, os cursos têm duração de quatro horas diárias. A capacitação oferecida tem o objetivo de despertar no ambulante a compreensão de que sua atividade é um negócio que pode ser aprimorado com a adoção de práticas gerenciais e de higiene, enfatizando a sua organização financeira.

“Os ambulantes têm a possibilidade de planejar a sua atividade durante o Carnaval, simulando o fluxo de caixa, prevendo o resultado e a necessidade de empréstimos. Além disso, a parceria com o Senac é muito importante porque os vendedores aprendem a armazenar e a manipular alimentos e bebidas”, afirma Dora Parente.

O secretário de Serviço Público de Salvador, Arnando Lessa, destaca que a ação tem como objetivo melhorar a renda dos ambulantes no período, assim como gerar emprego na cidade. A previsão é que o faturamento, no período, chegue a três ou quatro salários mínimos por profissional.

A prefeitura, além de organizar o trabalho dos ambulantes durante a festa, garantir infra-estrutura adequada, como pontos de água, luz, sanitários, tem como parceiro o Banco do Nordeste, que oferece a esse público uma linha de crédito para capital de giro de até R$ 800.


Pequenos crescem com a força do Carnaval:

Em Salvador, impulsionada pelo Carnaval, a indústria dos abadás cresceu nos últimos anos e transformou pequenos negócios em bem-sucedidas e modernas empresas. É o caso da Fortiori, instalada em Caetité, interior da Bahia. A proprietária Mauren Oliveira conta que o negócio começou em 1993, quando era apenas ela e uma máquina de costura.

Na época, fazia roupas da moda e uniformes. Em 1995, a encomenda de um pequeno bloco de Carnaval mostrou o caminho do que seria o sucesso da empresa de Mauren. Esse mercado de eventos impulsionou tanto a empresa, que hoje Mauren tem 380 funcionários fixos. O segredo desse sucesso a empresária credita à busca de qualidade e pontualidade, além do preço. Para atender os clientes com presteza e menor preço, a Fortiori investiu em equipamentos e hoje tem uma gráfica completa dentro da fábrica. Isso porque a confecção é apoiada por trabalhos em serigrafia e estamparia. “Nossa empresa é totalmente verticalizada e a produção é em escala. Por isso, confeccionamos uma quantidade maior de peças e podemos vender com uma margem menor de lucro por peça”.

Neste ano, a Fortiori está confeccionando abadás para 34 blocos, dos 60 do Carnaval de Salvador. Entre eles, blocos famosos como o Eva, Beijo, Cerveja e Cia. A produção chega a 32 mil peças por dia. A qualidade do produto está tão consolidada que Mauren já exportou para Espanha, Portugal e Estada Unidos.

Para reduzir custos, ela importa o fio e terceiriza a tecelagem e a tinturaria. Mauren conta que a empresa nunca abriu mão do apoio de consultores, que estão sempre por perto orientando e mostrando formas de melhor produzir. “Procuramos profissionais que podem dar dicas para customizar e otimizar a empresa”, conta.

A Loygus for Export é outro exemplo de empresa que ganhou força com a produção de camisetas e abadás, tanto para eventos quanto para o Carnaval. Com sede em Salvador, a empresa produz 2,7 mil peças por dia. De acordo com o proprietário, José Loyola, o carro-chefe é mesmo o Carnaval, pois 90% do faturamento vêm das encomendas para a festa. Outros 10% são resultados das exportações que a Loygus realiza.

Loyola explica que o movimento maior da fábrica ocorre de dezembro a março, em razão dos carnavais fora de época e do Carnaval propriamente dito. Em período normal de funcionamento, a empresa tem 26 funcionários. No entanto, próximo aos festejos carnavalescos esse número sobe para 80.







Fonte: SEBRAE