Editoria: Vininha F. Carvalho 31/03/2006
Em sua primeira visita ao Brasil, no mês passado, o americano Luka Pavlina fez tudo o que um turista estreante faz no Rio de Janeiro: Corcovado, Pão de Açúcar, ensaio de escola de samba e praia. Mas preferiu não se hospedar em hotel. Na companhia da irmã e de um amigo, o estudante de 27 anos escolheu a casa de uma família, em um luxuoso condomínio onde mora quase uma dezena de artistas famosos, para se alojar durante os dez dias de viagem.
Apesar de ter ficado instalado mais de 30 quilômetros distante das principais atrações da cidade, Luka adorou a experiência. "Eu nunca ficaria tão à vontade em outro lugar. Estou me sentindo em casa", contou o rapaz, deitado no sofá da residência do casal Luiza Imperial e Alfredo Mendes, que desde julho do ano passado recebe visitantes em troca de até 110 dólares por dia. Esse tipo de iniciativa tem origem na decadência da aristocracia européia.
A idéia de abrir os portões de castelos e mansões em troca de uma pequena taxa garantiu a renda de muitas famílias durante anos. Ao longo do tempo, a prática ampliou-se por outros países da Europa e do mundo e ganhou cara de serviço turístico de verdade, batizado de bed and breakfast (cama e café).
A categoria é bem ampla. Reúne de hospedarias muito simples a residências sofisticadas e tem entre seus clientes desde jovens mochileiros até o príncipe Charles, da Inglaterra. No Brasil, o segmento que ganhou impulso recentemente é o de bed and breakfast de luxo.
Hoje já é possível se hospedar dessa forma em um casarão histórico em Olinda, em um amplo apartamento debruçado sobre a Praia de Copacabana ou em uma fazenda no interior do Paraná. A oferta é pequena e divulgada com discrição, até porque a exclusividade faz parte do marketing. No Rio de Janeiro, por exemplo, apenas cinco residências de alto padrão estão anunciadas.
A decoração e o conforto são comparáveis aos de hotéis cinco-estrelas, embora nessa modalidade de hospedagem não haja serviço de quarto ou a possibilidade de fazer outras refeições que não seja o café-da-manhã. A contrapartida é o tratamento mais pessoal. Divulgados principalmente em sites internacionais de hotelaria , como o Bed and Breakfast e sua versão brasileira, o Cama e Café, os serviços atraem estrangeiros que vêem uma série de vantagens ao dividir o mesmo espaço com os moradores do local em que se hospedam.
Para quem recebe os visitantes, a experiência tem seu preço. Luiza Imperial e Alfredo Mendes, por exemplo, tiveram de se mudar para o escritório da casa onde vivem. Só em fevereiro circularam pelos aposentos do casal mais de vinte pessoas das mais diferentes nacionalidades.
Os arquitetos Acácio Gil Borsoi e Janete Costa receberam os primeiros hóspedes durante o Carnaval e cobraram 180 reais por dia. Gostaram da experiência e já têm preparadas três espaçosas suítes no casarão de 1.000 metros quadrados e quatro andares onde vivem, em Olinda. Apesar da animação, a família não pensa em se dedicar integralmente à nova empreitada. "Sabemos que a procura é sazonal. Por isso, não pretendemos contar com esse dinheiro sempre", afirma Janete.
A designer Esther Ribeiro, de 49 anos, que mora com o marido em uma casa cercada pelo verde da Mata Atlântica a quinze minutos do centro histórico de Parati, no litoral fluminense, adotou um manual de conduta. Além das recomendações tradicionais de respeito aos horários de silêncio, preocupou-se em dar informações sobre a fauna local.
"Tem gringo que chega aqui e fica louco com qualquer inseto ou lagartinho que aparece", diz Esther, que recebeu quarenta pessoas desde janeiro. O número deixaria enciumados muitos donos de pousadas e outros estabelecimentos que pagam impostos. Mas a atividade, segundo o Ministério do Turismo, embora não regulamentada, não é ilegal.
Qualquer pessoa pode receber quantos hóspedes quiser, em alguns países, o limite é de três quartos por casa. Por via das dúvidas, no entanto, alguns anfitriões preferem não oficializar a nova atividade. Fazem de conta que estão recebendo amigos. E não se importam nem um pouco com a possibilidade de os vizinhos estranharem a súbita popularidade