Parceria apóia recuperação econômica sem degradação ambiental

Editoria: Vininha F. Carvalho 20/12/2005

Nos últimos 40 anos, 60% da população de Aimorés, região nordeste de Minas Gerais, deixou a cidade para procurar lugares mais prósperos para se fixar. A falta de atividade econômica forte deixa os habitantes sem boas perspectivas e o êxodo piora ainda mais os negócios da cidade. Fixar a população e promover o desenvolvimento sustentável são os objetivos de uma parceria entre a Organização Não-Governamental Instituto Terra e o Sebrae.

O investimento total de quase R$ 500 mil da parceria trouxe conhecimento para criadores de gado leiteiro e artesãos que passaram por treinamentos e acompanhamento de técnicos. Um diagnóstico constatou que o rebanho da cidade, apesar de grande, tem baixa produtividade, dificuldades de transporte do produto e desmotivação dos pequenos produtores. Assim, foi implantado um programa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para capacitação dos micro e pequenos produtores.

A técnica consiste em concentrar o trabalho em pequenas áreas da fazenda para melhorar a produtividade. "Acreditamos que o produtor não terá que usar as metades de cima dos morros", explica Gilson Gomes. Controle de chuvas, temperaturas, de receitas e despesas e um projeto de irrigação também são realizados. "Eles viram em São Paulo fazendas produzindo 400 litros de leite em dois hectares, enquanto eles tiram apenas 60 litros de 15, 20 hectares", diz o técnico.

Técnicos locais foram treinados para acompanhar o desenvolvimento do programa em nove produtores da região que servirão de exemplo para os outros. Os resultados já começam a aparecer e serão medidos com exatidão depois do período das chuvas. "Nesta época é natural o aumento da produtividade e por isso é difícil colher dados precisos", explica Gilson Gomes.

Espera-se um aumento de produtividade de 300% nas fazendas demonstrativas em três anos. A renda do produtor irá dobrar nesse período e, com isso, o êxodo rural também irá diminuir. Por meio do uso racional dos recursos naturais 20% da área de pastagem poderá ser reduzida e dar lugar ao reflorestamento.

A viabilidade econômica para o produtor será o principal argumento para ampliar o projeto, desta vez sem subsídios.

"Queremos chegar a 200 propriedades assistidas com recursos dos fazendeiros. O retorno econômico justifica o investimento", acredita Gilson. Para fazer parte o produtor precisa obedecer regras como preservar matas ciliares e cercar nascentes.



Cultura esquecida:

O artesanato, apesar de ser uma atividade economicamente incipiente, tem grande importância na preservação da cultura popular e é uma das poucas oportunidades para ocupar a mão-de-obra disponível. Dois grupos de trabalhadores, um do interior de Aimorés e outro da sede do município, passou por treinamentos com consultores do Sebrae entre julho e outubro de 2005.

Batizado de Arte da Terra,os 19 artesãos da sede de Aimorés já pensam em criar uma cooperativa. "Íamos, cada um por si, para a feira quinzenal da cidade. Olhávamos uns para os outros com concorrentes. Hoje queremos trabalhar juntos, ter uma loja para expor os produtos", conta a artesã Selma Oliveira.

O estudo do design tem seu resultado evidente nas peças de patchwork (técnica que tem como base o uso de sobras de tecido) marca do grupo. Mas outras mudanças, mais difíceis de enxergar, têm também grande importância. "Nos faltava a visão de negócio, calcular os custos, planejar. Agora sabemos tudo na ponta do lápis", diz Selma.

Em São Sebastião da Vala, distrito que sediou o grupo rural e que tem menos de dois mil habitantes, os artesãos juntaram, ao tradicional ponto cruz, trabalhos em palha, coco, tronco de bananeira e até em capim. A medida em que os cursos foram realizados, surgiram tradições preciosas e esquecidas. "Teve gente que se lembrou de uma boneca que a avó fazia, do uso da palha, do tecido", conta a responsável pelo projeto Giuliene Lírio.


Instituto Terra

O Instituto Terra foi criado pelo fotógrafo reconhecido em todo mundo Sebastião Salgado. A idéia é recuperar a mata atlântica que originalmente ocupava a fazenda onde ele foi criado, a Bulcão e toda a região do Vale do Rio Doce. Junto com o trabalho ambiental, o Instituto busca o desenvolvimento sustentável da cidade, que tem 24,4 mil habitantes e fica na divisa de Minas Gerais e Espírito Santo.



Fonte: Sebrae