Ambientalista , Prêmio Global 500 da ONU, esta sendo ameaçado

Editoria: Vininha F. Carvalho 06/07/2006

Ambientalista atuante na região metropolitana do Estado do Rio, o
jornalista Vilmar Berna, 49, vem recebendo ameaças de morte. São
telefonemas e recados de vizinhos que o alertam sobre a possibilidade de ser assassinado.

O corpo de um homem morto a pauladas foi deixado ao
lado de sua casa.As ameaças partiriam de pessoas incomodadas pela presença do ambientalista na comunidade do Cascarejo, na enseada de Jurujuba (Niterói, cidade a 15 km do Rio). Antigo cartão-postal da baía de Guanabara, o local convive hoje com pesca e criadouros clandestinos,favelização, poluição por esgotos e dejetos industriais e tráfico de drogas.

Com cerca de 3.000 habitantes, o Cascarejo abriga pescadores
profissionais, mas também suspeitos de explorarem dezenas de criadouros clandestinos de mexilhões.Também partiriam dali embarcações que revolvem o fundo da baía com rede de malha fina, o que é proibido pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

A malha fina arrasta no fundo do mar, captura e dizima todas as
espécies. Os alvos principais desses pescadores são os camarões, antes abundantes na baía e hoje em processo acelerado de desaparecimento.

Informada sobre as ameaças, a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) requisitou à Polícia Civil informações sobre o que está sendo feito para a proteção do ambientalista.

O temor é que ocorra com Berna o mesmo que aconteceu com Dionísio Júlio Ribeiro Filho, ambientalista assassinado no ano passado por causa do trabalho que desenvolvia na Reserva Biológica do Tinguá (Nova Iguaçu,Baixada Fluminense), invadida por caçadores e desmatadores.


Tráfico

Além dos pescadores clandestinos, são suspeitos de ameaçarem Berna
traficantes e usuários de drogas que atuam no Cascarejo, para onde ele se mudou há seis anos.Berna adquiriu uma casa que era usada para consumo e tráfico de maconha e cocaína.

A casa fica na localidade de Ponta da Ilha, limite entre o
Cascarejo e o mar. Logo que se mudou, proibiu o uso de drogas nas
proximidades.

"Sou um ambientalista razoavelmente conhecido. A minha presença aqui trouxe uma certa preocupação a essas pessoas que pescam na época do defeso, com malha fina. Passei a ser um fator de tensão na comunidade", disse.

Neste ano, circulou na comunidade o boato de que Berna fecharia com um muro o acesso da favela à prainha.Ele também se insurgiu contra a construção de um píer clandestino em frente à casa em que mora com a mulher e o enteado de seis anos.

As ameaças começaram desde então e se intensificaram no mês passado.Telefonemas em que uma mulher avisava que ele seria morto passaram a ser constantes. Um amigo o alertou de que estava em curso um plano para espancá-lo até a morte e sumir com o corpo no mar. Em maio, seis homens armados foram à noite à casa dele para intimidá-lo.

Para tornar a situação ainda mais dramática, um cadáver foi deixado na prainha, há cerca de dois meses. Era um homem que havia sido visto no dia anterior bebendo nos bares que ficam na favela. Ao lado do corpo, um porrete ensangüentado foi deixado pelos criminosos. Antes da chegada da polícia, o cadáver desapareceu do local.

Assustado, Berna registrou as ameaças na Polícia Civil. Inicialmente,contratou dois seguranças, que permaneciam na casa. Por falta de dinheiro, eles foram dispensados em junho.


Trabalho valeu premiação da ONU em 1999

Assim como o seringueiro Chico Mendes, morto em 1988 no Acre, e o
sociólogo Herbert de Souza, o Betinho (1935-97), o ambientalista Vilmar Berna é um dos brasileiros agraciados pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o Prêmio Global 500.

Berna recebeu a honraria em Tóquio, durante a comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de novembro), em 1999. O prêmio é concedido pelas Nações Unidas a personagens de destaque em questões relacionadas à defesa ambiental.

Gaúcho, Berna veio para o Estado do Rio na primeira metade da década de 70, a fim de servir ao Exército. Radicou-se inicialmente em São Gonçalo,cidade pobre na região metropolitana do Rio.

A militância começou ali, em protestos contra a instalação do depósito de lixo do município em uma área preservada de manguezais na baía de Guanabara. Hoje, ele atua principalmente como jornalista e escritor.As ameaças recentes não são as primeiras que recebe. "Sempre busquei dar visibilidade a elas. É uma forma de me defender", afirma. (ST)

Fonte: Folha de São Paulo