Editoria: Vininha F. Carvalho 31/07/2006
Na manhã da quarta-feira, 26/07, o presidente da Brazilian Incoming Travel Organization (Associação Brasileira de Turismo Receptivo Internacional) – BITO, Roberto Dutra, ministrou palestra sobre “A importância do Turismo Receptivo Internacional para o Brasil e para o Estado do Rio de Janeiro” durante a V Confraria dos Municípios, promovida pela Câmara de Comércio e indústria do Estado do Rio de Janeiro, que nesta edição tratou exclusivamente do Turismo sob o tema "Turismo: atividade econômica sustentável e importante gerador de empregos e divisas".
Roberto Dultra iniciou a sua exposição fazendo um comparativo do início de sua carreira, há 31 anos, quando o Turismo tinha uma participação tímida na economia do país e não era considerado como setor ou indústria, recebendo cerca de 200 mil turistas por ano, e hoje, quando o Brasil recebeu 5,4 milhões de turistas em 2005, dos quais 36,9% passaram pelo Rio de Janeiro. “Só o Rio de Janeiro recebeu dez vezes mais turistas no ano passado do que o país recebia em 1975”, destacou.
O setor de Turismo representa hoje 3,9% do PIB do Estado do Rio de Janeiro, destacando-se como um setor que emprega centenas de milhares de pessoas diretamente e três vezes isso indiretamente. Porém, para Roberto Dultra, este salto ainda é tímido, posto que se compararmos com a representação do setor no mundo – 11% do PIB – estamos aquém do que poderíamos ter.
“Ainda há muito por conquistar, mas estamos caminhando a passos largos. No Brasil o Turismo já é um setor sério, firmando-se como uma indústria que gerou U$ 3,8 bilhões de receita para o país e em 2006 deve alcançar U$ 4,5 bilhões, o que representa o 3º lugar na atividade de exportação do país”, expõe Dultra.
Outro dado interessante destacado pelo presidente da BITO, em comparação à indústria do Turismo no mundo, diz respeito ao crescimento expressivo que o país vem apresentando nos últimos dois anos, sendo cerca de 12% a 14% em relação ao crescimento de 6% a 7% do setor no mundo.
Com relação ao Rio de Janeiro, Roberto Dultra destacou que a cidade tem uma situação privilegiada, pois é vitrine do Brasil, mantendo-se como o destino mais conhecido do país mundialmente, contribuindo para a promoção do Brasil como um todo.
Porém, afirmou ser esta condição uma “faca de dois gumes”, pois quando o Rio de Janeiro é alvo de notícias negativas, principalmente por conta de casos que envolvem violência contra turistas, a repercussão também é grande no exterior e prejudica a imagem do destino e do país. “A violência de São Paulo não afetou o turismo internacional no Brasil, as conseqüências são mais sentidas no mercado interno, aonde a divulgação é grande. Porém, se há qualquer tipo ocorrência de violência a turista no Rio de Janeiro, o caso alcança repercussão internacional”, explica.
A conclusão de sua palestra foi embasada em reivindicações necessárias para atrairmos mais turistas para o Rio de Janeiro e recebermos estes visitantes cada vez melhor, principalmente no que diz respeito à infra-estrutura e ações específicas para enfatizar o Turismo. Entre os tópicos pontuados por Roberto Dutlra, as questões da segurança pública e da lei de reciprocidade para vistos se destacaram.
Segundo Roberto Dultra, a criminalidade de rua não tem mais o peso que tinha, desde os ataques terroristas de 11 de setembro, nos Estados Unidos, porém a questão da segurança pública é um fator de extrema importância para o setor.
“Temos que definir os pontos em que há necessidade de segurança efetiva; temos que ter policiamento ostensivo mesmo, a exemplo do que foi feito em Nova York na década de 70, quando o governo pontuou os principais trechos de circulação de turistas e combateu seriamente a criminalidade, fechando o cerco com a presença de um efetivo considerável de policiais no chamado quadrilátero turístico de Manhattan”, exemplifica.
Além disso, acrescentou a importância da propaganda para difusão do turismo brasileiro no exterior. “O problema de segurança se reverte num problema de imagem. Turismo é percepção. Não adianta apresentarmos coisas boas se uma notícia negativa fica na memória de quem tem acesso a ela. O poder de propaganda no nosso negócio é real. O nosso produto é comprado e pago antes de ser recebido. Há um jargão publicitário que diz que imagem é a alma do negócio e isso é especialmente verdadeiro no setor de Turismo”.
Além da segurança pública, o presidente da BITO destacou quesitos como limpeza, sinalização turística, conscientização da população para receber bem o turista e melhorias urgentes no Cais do Porto, apontando o que deve ser melhorado em cada um deles.
“Limpeza é fundamental para qualquer destino turístico. Com relação à sinalização, 65% dos nossos turistas vem ao Rio sem serviços contratados, pois marcam seus vôos e hotéis independentemente. Esse tipo de turista está vulnerável aos problemas de segurança e locomoção, pois grande parte dos que viajam sozinhos, monta seu próprio roteiro, querem alugar um carro e explorar as belezas da cidade. Porém, se um turista quiser sair de Copacabana para ir ao Corcovado, terá inúmeras dificuldades. Não há sinalização apontando para os pontos turísticos. Sinalização é fundamental”, reivindicou.
Com relação à questão da lei de reciprocidade para os vistos, Roberto Dultra foi incisivo: “Só o mercado dos EUA, por exemplo, apresenta mais de 61 milhões de viagens internacionais por ano. Dessas o Brasil só recebe pouco mais de 700 mil e, como muitos sabem, a grande maioria dessas viagens são a trabalho.
Ou seja, o Brasil deve estar recebendo hoje cerca de 200 a 250 mil turistas dos EUA por ano no máximo, quando já poderia estar recebendo pelo menos 1,7 milhão. O mais grave, entretanto, é o fato de o Ministério das Relações Exteriores impor severas restrições, burocracia injustificada e preço alto à concessão de visto de entrada a cidadãos de paises que a muito, além dos Estados Unidos, são conhecidos como alguns dos principais mercados emissores do mundo, como Canadá, México, Japão, Austrália, entre outros”, concluiu.