Do Brasil à França, para ver o ecoturismo

Editoria: Vininha F. Carvalho 31/07/2006

De Santa Rosa de Lima, um município de 2.070 habitantes em Santa Catarina, para a França, Leonilda Boeing levou o orgulho de ser agricultora e a vontade de aprender mais sobre turismo e hospedagem. Em sua primeira viagem para fora do Brasil, sim, ela é da família dos fundadores da fábrica de aviões, “mas da parte que não ficou com nada”, a catarinense se surpreendeu nas quase duas semanas em que rodou o exterior, no final de junho: conheceu propriedades rurais que, além de serem importantes atrações de agroturismo e turismo ecológico, estão prontas para receber crianças e se adequando para abrigar portadores de necessidades especiais.

“Fomos para a França para comprovar se nosso trabalho com agroturismo é o mesmo desenvolvido lá e chegamos à conclusão de que é. Mas os franceses estão mais avançados em matéria de associação, eles tem mais assistência técnica em suas propriedades”, comenta Leonilda, que é apicultora e coordenadora-geral do projeto Acolhida na Colônia.

A iniciativa, reconhecida pelo PNUD com o Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio Brasil 2005, incentiva o turismo rural como alternativa econômica e forma de combater o êxodo rural.

A idéia nasceu na França, em 1987, com o Accueil Paysan, e é uma forma de valorizar o trabalho dos agricultores. Apesar de o Acolhida ter sido implantado em Santa Catarina em 1999, a viagem de junho, de que participaram Leonilda e mais cinco pessoas, foi a primeira em que os coordenadores brasileiros puderam conhecer o projeto original. “As propriedades que visitamos tinham asfalto até a porta”, surpreende-se.

Ela conta que percebeu uma grande diferença entre os agricultores franceses e os brasileiros. Aqui, avalia, as famílias do campo resistem em abrir suas propriedades, com o argumento de que é preciso investimento financeiro e luxo para receber os turistas.

“Para os franceses, é muito claro que não é preciso muito dinheiro. A idéia é os turistas conhecerem a vida no campo como as famílias locais. Mas é claro que é preciso organizar a propriedade para receber as pessoas”, afirma. Ela cita o exemplo de uma propriedade na França que tinha uma sala especialmente preparada para ensinar a apicultura para crianças.

Valmor Zandonai, gerente de Cultura, Turismo e Esporte da Secretaria de Desenvolvimento Regional de Ibirama, que apóia o Acolhida, conta que a idéia de promover o agroturismo no campo é uma forma de valorizar “o duro trabalho na roça que sustenta as pessoas na cidade” e diminuir o êxodo rural, já que cria uma alternativa de renda para as famílias no campo. Para ele, que também foi para a França conhecer o Accueil Paysan, a iniciativa resgata o orgulho do agricultor.


Fora, celulares:

Leonilda Boeing concorda com Valmor, e vai além. “Com o agroturismo penso garantir emprego para meus dois filhos na terra em que nasci e fui criada”, afirma.

Há sete anos ela tornou sua propriedade de seis hectares um recanto que recebe cerca de mil turistas por ano. “Eles ficam aqui e participam das atividades normais, como ajudar no café da manhã ou ir retirar mel”, conta.

E sentem medo das abelhas? “No começo, um pouquinho. Mas, ao nos verem mexendo com tranqüilidade e vestidos com macacão e equipamentos, tomam coragem. Depois, não querem mais deixar de tirar”, diverte-se.

Ela conta que recebe os visitantes com produção própria de alimentos e ainda com a ajuda da família: além do marido, conta com uma filha e um filho. O mais novo, Jackson, de 13 anos, é guia para trilhas e ajuda a colocar a mesa, por exemplo.

“Os turistas já ficaram por aqui por até 20 dias. Eles gostam da tranqüilidade e pedem até para impedirmos a colocação de antenas de celular, para não atrapalhar o sossego”, relata.Agora, ela vai contar sua experiências a outras famílias da região, como forma de incentivá-las a aderir ao projeto.

Fonte: PNUD