Editoria: Vininha F. Carvalho 18/04/2006
Os fabricantes de TV sabem que a Copa do Mundo sempre ajuda a vender novas linhas de aparelhos. Mas muitos deles ignoram um tipo de consumidor fiel e com grande poder de compra: os donos de pousadas e hotéis. De acordo com a pesquisa "Meios de Hospedagem: Estrutura de Consumo e Impactos na Economia", divulgada nesta terça-feira (4/4), o setor de hospedagem tem estoque de mais de 615 mil aparelhos de TV e compra anualmente mais de 100 mil unidades.
Televisão é apenas um dos 68 itens analisados na pesquisa, apresentada na sede da Companhia Siderúrgica Nacional (CNI), pelo Ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, e pelo diretor-técnico do Sebrae Nacional, Luiz Carlos Barboza. A amostra foi realizada por meio de entrevistas a 2.500 representantes de meios de hospedagem, no segundo semestre de 2005.
O universo do setor, no entanto, abrange mais de 23 mil empresas no País, de acordo com a mais recente Pesquisa Anual de Serviços (PAS) do IBGE. O estudo é fruto da parceria entre o Ministério do Turismo, o Sebrae e a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e foi executado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Outro equipamento que também impressiona bastante pelo poder de consumo é o frigobar, uma vez que os hotéis e pousadas têm estoque de mais de 462 mil unidades deste aparelho e todo ano compra mais de 61 mil. Já o estoque de ar condicionado não fica muito atrás, mais de 427 mil unidades, com reposição anual de cerca de 65 mil novos aparelhos.
Mas a importância do setor hoteleiro para o crescimento das indústrias que fabricam enxovais de cama, mesa e banho (como fronhas, lençóis e toalhas) é maior ainda, já que o estoque é de 17 milhões de unidades. A reposição anual desses itens é de sete milhões. Entre os demais itens estudados na pesquisa, destacam-se forno de microondas, forno elétrico, ventilador, luminária e aparelhos de CD e DVD.
Pequenas empresas são os maiores compradores:
Em boa parta destes itens, é impressionante perceber que os principais compradores são justamente os hotéis e pousadas de pequeno porte. Repetindo o exemplo dos aparelhos de TV, percebe-se que mais da metade do estoque de 615 mil unidades encontram-se em meios de hospedagem com até 19 empregados.
Já os empreendimentos com mais de 100 funcionários detêm apenas 46 mil equipamentos. Proporção semelhante acontece com outros itens como frigobar, forno microondas, ar condicionado e camas de casal.
Para medir os impactos econômicos do setor de hospedagem, o estudo utiliza dados secundários do IBGE de 2002 (os mais atualizados até o momento para área de serviços) e outros bancos de dados para fazer comparativos com relação a emprego e recursos. A conclusão é de que o setor de hospedagem gera anualmente cerca de 240 mil empregos formais e diretos e 300 mil indiretos, além de produz faturamento de cerca de R$ 4,8 bilhões.
Hotelaria contribui para distribuição de renda
Vale observar também que o custo da geração de emprego na hotelaria é um dos mais baixos da economia brasileira, exigindo um valor de produção de R$ 16 mil. Se compararmos com outros setores como construção civil e têxtil, observamos que o valor para gerar emprego requer quase o dobro (cerca de R$ 28 mil), enquanto a siderurgia representa o quádruplo (R$ 68 mil).
O pesquisador da Fipe Wilson Rabahy destaca ainda que o setor de hospedagem é uma das atividades que mais contribui para melhorar a distribuição regional de renda. "Noventa e sete por cento do produto gerado pelos meios de hospedagem na região Nordeste, por exemplo, ficam na própria região. Enquanto nos setores de construção civil e têxtil, cerca de 85% do que é produzido ficam na própria região. Portanto, a fuga dos impactos econômicos da hotelaria é menor", explica.
O ministro Walfrido dos Mares Guia destaca a importância da pesquisa para o turismo. "Estas informações são fundamentais para discutir a necessidade de considerar equipamentos como aparelho de TV e camas como bens de consumo para a indústria hoteleira. Hoje, o dono de um hotel não tem vantagem alguma de preço com relação ao consumidor comum", compara.
Já o diretor-técnico do Sebrae Nacional, Luiz Carlos Barboza, afirma que a partir das estatísticas, o Sebrae pretende discutir a formulação de políticas públicas que estimulem o setor. Uma deles é avaliar de que forma os donos de pousadas e hotéis podem fazer compras conjuntas.
"Pretendemos estimular, por exemplo, a interação entre os arranjos produtivos locais de móveis e confecção, por exemplo, para abastecer hotéis e pousadas como forma de dinamizar os arranjos produtivos de turismo", avalia.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Eraldo Cruz, o mais relevante na pesquisa é constatar o poder de consumo do setor. "Faltava ao mercado ter um quantitativo dessa natureza. São muitos fornecedores e até então não havia clareza com relação a essa dimensão.
Agora, os industriais vão poder ajudar a promover o turismo no Brasil porque interessa a eles que o setor cresça cada vez mais", prevê.