Brasil desponta como um dos países mais promissores na produção de orgânicos

Editoria: Vininha F. Carvalho 05/03/2007

Por apresentar uma oferta diversificada, o Brasil já ocupa posição privilegiada entre os países produtores de orgânicos, embora ainda precise desenvolver os recursos que o promoverão da vaga de fornecedor de matérias-primas para a de exportador de gêneros para o consumo direto.

A constatação não escapou à delegação brasileira que participou da mais recente edição da Biofach, realizada entre os dias 15 e 18 de fevereiro passado, em Nurembergue, Alemanha. A feira reuniu 2.566 expositores de 116 países e atraiu 45 mil visitantes.

Em franca expansão, o mercado internacional, que já absorve 70% da produção brasileira, busca soluções para uma demanda que cresce aceleradamente. Faltam produtos e o Brasil, com seus mais de seis milhões de hectares ainda por cultivar, é forte candidato à segunda colocação, atrás da Austrália, líder do segmento (oito milhões de hectares plantados).

"Se fizer o dever de casa com louvor, o Brasil poderá ter um papel importante na mudança deste quadro", disse Ming Chao Liu, gerente do projeto Organics Brasil, uma iniciativa surgida no Paraná desenvolvida pela APEX-Brasil (Agência de Desenvolvimento de Exportações e Investimentos) e o IPD (Instituto Paraná Desenvolvimento).

O programa, cuja meta é capacitar novos produtores (e apoiar os já existentes) foi estendido a outros estados do país por recomendação da Agência, que há cinco anos organiza a presença brasileira na Biofach. Este ano, com o apoio da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK), a APEX-Brasil levou 36 expositores a Nurembergue, entre representantes de 25 empresas, quatro associações e sete cooperativas de 13 estados.


Metas :

A imagem de grande provedor de ingredientes, a exemplo de café, cacau, açúcar, cereais e soja, precisará ser modificada, para que o país passe a ser reconhecido como fornecedor de produtos finalizados como biscoitos, cookies, sucos e geléias, "até chegar num nível de sofisticação maior, como o dos cosméticos", completou Chao Liu.

De acordo com ele, esta mudança começaria pela regulamentação do setor de orgânicos (cuja legislação é aguardada para este ano), passaria pela convergência da produção para um mesmo pólo, em termos atuais, ela está pulverizada pelo país, e pela superação da pouca estrutura logística. Uma vez cumpridos, estes objetivos reforçarão o aspecto em que o Brasil está mais bem preparado, o das certificações.

"Em meio a este processo", continuou Chao Liu, "esperamos que surjam empresas capazes de utilizar estas matérias-primas internamente, e que consigam agregar valores aos produtos de quem quer, mas não pode exportar".

Até 2009, o projeto Organics Brasil pretende fixar a Marca Brasil como um selo de produtos genuinamente nacionais. A intenção é movimentar a cadeia produtiva, criar empregos e fazer com que os benefícios resultantes destes procedimentos permaneçam dentro das fronteiras brasileiras.

Além de atestar a confiabilidade do produtor/empresa, a participação numa feira deste porte estabelece o contato visual necessário a essa transformação.

"A Biofach é uma ótima oportunidade para conhecer a concorrência e gerar novas parcerias. Os resultados que o Brasil vem obtendo demonstra que o trabalho de estruturar o setor está no caminho certo. Principalmente no que se refere aos pequenos produtores que iniciam uma bem-sucedida trajetória no mercado externo", observa o presidente da APEX-Brasil, Juan Quirós.


Perspectivas

Em cinco anos, a Biofach rendeu ao Brasil negócios no valor de US$ 92 milhões. O evento também continua a prosperar: comparado a 2006, o número de expositores cresceu 23% (2/3 de estrangeiros), e o de visitantes, 20%. País-tema de 2007, a Itália compareceu com 356 participantes. Jordânia, Letônia, Liechtenstein, Malásia e Chipre compuseram o grupo dos estreantes. Em área ocupada, a NürnbergMesse, empresa detentora da marca, anunciou uma ampliação de 18%.

Além de expositor, o Brasil é o hospedeiro de uma das quatro filiais da Feira, a Biofach América Latina, que acontecerá em outubro próximo, em São Paulo. Com o apoio da Trend Operadora, foi realizado um sorteio de uma viagem entre os compradores que estiveram no estande brasileiro para participar da próxima edição da Biofach América Latina. A vencedora do concurso foi a bióloga mexicana Alma Rosa. Embora desejasse visitar a Biofach brasileira, ela temia não poder fazê-lo por falta de recursos.

Já no primeiro dos quatro dias de Feira, ficou claro para os brasileiros que a ida a Nurembergue foi uma decisão acertada. O saldo de US$ 850 mil em negócios fechados no próprio evento e a perspectiva do fechamento de outros US$ 17 milhões em vendas nos próximos 12 meses corresponderam às expectativas dos expositores. Juan Quirós, presidente da APEX-Brasil que desde 2003 acompanha a Feira, também usou o conceito de "lição de casa" para demonstrar que a ação prévia é o comportamento-chave para fazer boas vendas no exterior.

"Os resultados muitas vezes não são imediatos, mas quando a empresa faz o dever de casa, procura os compradores e distribuidores antecipadamente, a vinda à Feira promove o contato pessoal fundamental para o fechamento dos negócios", disse.

Quirós ressaltou que a APEX-Brasil busca o desenvolvimento de uma "cultura exportadora". Ainda segundo ele, a continuidade do trabalho junto aos produtores tem favorecido a diversificação e o salto qualitativo dos produtos brasileiros, fatores decisivos para que importadores tenham no Brasil um fornecedor indispensável.

Durante a Biofach, as estratégias para o progresso do setor no país foram demonstradas no seminário "Mercado Brasileiro", apresentado por Maria Beatriz Costa, diretora da Planeta Orgânico, empresa co-organizadora da Biofach América Latina.

Incluído pela primeira vez no programa da Biofach alemã, o seminário atraiu um público em que se destacaram parceiros comerciais de longa data.

"Pude observar vários compradores que já têm relações com vários projetos da APEX-Brasil. São formadores de opinião em seus próprios países que puderam constatar que o mercado brasileiro tem amadurecido e melhorado", disse Eduardo Caldas, técnico da Agência e um dos palestrantes, ao lado de Ming Chao Liu, e de Fábio Ramos, diretor da Agrosuisse, empresa de consultoria agropecuária e agroindustrial.

"O seminário foi uma conquista pela qual trabalhamos muito", frisou Maria Beatriz Costa. Ela destacou a importância do tema Sustentabilidade, sempre atual quando o assunto é o setor brasileiro de orgânicos.

"É preciso divulgar uma boa imagem do Brasil, por meio dos inúmeros projetos de que o país dispõe, sobretudo na Amazônia". Para marcar o início dessa campanha, a Biofach América Latina 2007 introduzirá o "Dia da Amazônia". A promoção tem por objetivo apresentar histórias de sucesso da região. A idéia é transformá-lo em um roadshow a ser levado para outras feiras e eventos internacionais.

Fonte: LVBA