Preservar a Mata Atlântica é desafio constante de pesquisadores em Pernambuco

Editoria: Vininha F. Carvalho 05/08/2008

Como preservar a saúde biológica da Mata Atlântica onde ainda resiste em pequenas áreas fragmentadas, não contínuas, e representando apenas 2,7% da floresta que ocupava originalmente no estado de Pernambuco?

Este é o desafio do Programa de Cooperação Internacional Mata Atlântica financiado pelo CNPq, no lado brasileiro, e pelo Ministério de Educação e Pesquisa (BMBF) da Alemanha. Iniciado em 2001, e já em sua segunda fase, o programa coordena projetos específicos em quatro estados brasileiros e visa desenvolver estratégias de conservação do bioma, por meio de pesquisa nas áreas de ciências sociais e naturais.

Em Pernambuco, o Projeto Sustentabilidade de Remanescentes da Floresta Atlântica e suas implicações para a conservação e desenvolvimento local tem o nome fantasia de Projeto Fragmentos. A coordenadora do lado brasileiro é a bióloga Maria Jesus Nogueira Rodal, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e bolsista de Produtividade em Pesquisa 1 do CNPq.

A área escolhida para o projeto foi a Zona da Mata Norte do estado de Pernambuco. A forma predominante do uso da terra é a monocultura de cana de açúcar, e a floresta atlântica remanescente se encontra bastante fragmentada, espalhada em manchas de mata. O processo de desmatamento foi intenso do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia.

Usina parceira:

Acusados de responsáveis pelo grande desmatamento, vários usineiros de Pernambuco, Alagoas e Paraíba têm procurado formar boas parcerias e criar associações de proteção à Mata Atlântica. Os resultados deste projeto de cooperação internacional CNPq-BMPF têm sido incorporados às estratégias de conservação na Usina São José/Grupo Cavalcanti Petribú, visando a proteção das nascentes, dos sítios de regeneração, assim como ao estímulo de técnicas de manejo e formas de conectividade dos remanescentes da mata atlântica.

Para o biólogo consultor ambiental da Usina São José, Roberto Siqueira Carneiro, esta estratégia de aprofundar estudos, inclusive com a participação de pesquisadores estrangeiros, é altamente importante para dar alternativas de vida às matas isoladas. "Na Usina São José, que conta com 27 mil hectares de terreno total, 9 mil e 300 dos hectares, cerca de 30%, compõem as manchas fragmentárias de mata atlântica. Isto sem contar com as áreas de mangues. Dos 30%, consideramos 20% como reservas legais, procurando averbar e diminuir o conflito fundiário", disse o pesquisador.

A coordenadora Maria Jesus Nogueira Rodal afirma que a usina proporciona, em contrapartida, todo o apoio logístico necessário, como alojamentos, auditório, agente de campo e guias para ronda na mata, além de cuidarem da segurança dos pesquisadores.

Fragmentos:

Na primeira fase do projeto, foi feita a caracterização dos fragmentos na região, compondo uma base de dados cartográficos. Esses dados permitiram analisar o histórico e o padrão da fragmentação e escolher nove áreas para estudos da comunidade vegetal lenhosa e das espécies arbóreas. Permitiu também comprovar e mensurar os efeitos da borda e do tamanho dos fragmentos na estrutura da vegetação, na reprodução e no restabelecimento das árvores.

A segunda fase teve início no final de 2006, e o foco principal está sendo a indicação do nível de autosuficiência dos fragmentos em diferentes escalas. Um estudo pioneiro permitiu o mapeamento das clareiras, fornecendo novos indicadores do grau de perturbação da floresta atlântica devido à fragmentação da mata.

Os pesquisadores também estão estudando as árvores e os fungos em áreas de capoeiras, quanto à composição florística e a estrutura em habitats diferentes, com estudos para o desenvolvimento de plantas jovens e adultas, mediante a formação de banco de semente.

Comunidades:

As comunidades vizinhas dos fragmentos também são estudadas para identificar as relações pessoas/plantas, quantificando o uso, o conhecimento e a percepção das pessoas sobre os recursos naturais. O professor de Etnobotânica, Ulysses Paulino de Albuquerque, iniciou há um ano e meio pesquisas sobre as comunidades humanas e sua relação com as plantas.

"O estudo pesquisa o comportamento de adultos e do público infanto-juvenil. O primeiro grupo tem uma relação de dependência dos recursos naturais, pois representam a subsistência da família com a extração da madeira para combustível, a caça, a construção e o uso medicinal das plantas. É uma visão utilitarista. Mas que em termos de prioridade é importante para preservar espécies como a planta Babatenon (nome popular), medicamentosa para inflamação e cicatrização, assim como a Ibiriba, para lenha e construção", afirma o Ulysses.

As crianças e adolescentes têm uma visão mais afetiva e contemplativa da floresta e são mais receptivas à conservação, principalmente recebendo noções de educação ambiental na escola. "Nosso estudo visa o socialmente justo e o biologicamente compatível para a necessidade de conservação dos recursos. Vamos propor estratégias e, se houver a terceira fase do projeto, vamos implementá-las", afirma Ulysses.

Terceira fase:

"Para os usineiros, a situação é bem delicada, pois a usina não pode permitir que a população local derrube a mata. O aporte de informações é o que eles precisam para reflorestar e quantificar os produtos da floresta junto à comunidade. E a reposição florestal é o que está previsto para uma possível terceira fase deste projeto de cooperação internacional CNPq/BMBF", afirma a professora.

Fonte: CNPq