Estâncias turísticas e meio ambiente

Editoria: Vininha F. Carvalho 20/06/2008

Após o último final de semana prolongado do ano, com sol, calor e praias lotadas ainda mais sujas depois do feriadão de Corpus Christi, é hora de ficar atento. O extrativismo insustentável, que caracteriza a indústria do turismo no Brasil, se prepara para subir as montanhas, e o país continua sem políticas públicas capazes de inibir práticas de degradação.

A meteorologia indica baixas temperaturas e grande potencial de aquecimento dos negócios de inverno, acirrando a ganância daqueles que, com práticas nocivas, novamente deixarão rastros de irresponsabilidade social e ambiental por onde passam para fazer seus negócios.

Campos do Jordão, por exemplo, já sofre o assédio de um tipo de “empresário” que se aproveita da natureza local para expor marcas badaladas e vender produtos de fora em um shopping sazonal com instalações precárias, sem qualquer compromisso com a comunidade local.

Conhecida como “a Suíça brasileira”, a cidade de Campos do Jordão pouco tem a ver com este país, a não ser na arquitetura mal copiada, que chega a ser constrangedora, e no clima frio. Nos quesitos mais importantes, Campos está mais para a realidade etíope. Enquanto autoridades locais se esforçam para esconder as águas poluídas do rio Capivari, que poderia e deveria ser um símbolo saudável da cidade, a ausência de gestão socioambiental em uma região reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade causa a ocupação irregular de suas encostas e morros, há muito tomados por favelas e construções irregulares que “florescem” em vários pontos.

À beira dos mananciais também se agrupam irregularmente famílias que despejam esgoto sem tratamento e lixo diretamente no rio Capivari, da mesma forma que sua rede hoteleira, autodenominada “de luxo”, seus restaurantes, bares, lojas etc. É estarrecedor observar uma cidade produzida para atrair levas de turistas não se preocupar com sua saúde social e ambiental, mesmo com seu mais belo e importante rio dando sinais de morte eminente. O odor insuportável exala uma realidade que não pode ser maquiada nem mesmo com o desfile de grifes e o convite para a degustação de fondues e vinhos finos.

Protegida por interesses políticos e fins eleitoreiros, a especulação imobiliária e comercial prossegue com sua ação predatória, causando sofrimento e deixando populações pobres sem perspectivas, quando, ao contrário, ali se poderia implantar uma estrutura sustentável, que favorecesse a economia local e mantivesse o maior tesouro da cidade: a natureza.

A preciosidade de Campos do Jordão não é sua coleção de hotéis cinco-estrelas ou de ruas repletas de lojas de marcas famosas, mas a sua paisagem exuberante, formada por montanhas e matas nativas de rara beleza. Infelizmente, a destruição das nascentes mais altas do Rio da Prata, a mais de 1.750 m de altitude, no bairro Umuarama, de onde as águas descem e atravessam as vilas Abernéssia, Jaguaribe e Capivari, até a divisa de Minas Gerais, tem sido persistente e feroz.

Antes mesmo de aberta a temporada de férias, a indústria do turismo extrativista já se faz presente com a subida à serra de empresários interessados apenas em fazer da região uma fonte incessante de lucros. Tomara que as pessoas que circulam pelas ruas de Campos um dia possam se dar conta desses estragos.

A comercialização de produtos e serviços em estâncias turísticas deve ter como premissa a contribuição efetiva de seus beneficiários com projetos de desenvolvimento sustentável local e integrado, em que a responsabilidade social e ambiental deve ser certificada pela sociedade. Um mundo sustentável é perfeitamente possível se soubermos exercer melhor nosso poder cidadão para ajudar a melhorar realidades locais com ações globais. Quem não demonstrar ter esse compromisso, deve ser banido do mercado, quem sabe já nesta temporada.



Autoria:Leonardo Morelli - Escritor e ambientalista - Secretário Geral do Instituto para DEFESA DA VIDA e membro do Conselho Deliberativo da DEFENSORIA DA ÁGUA, colegiado de instituições que atua em defesa da sociedade brasileira nas questões relativas ao acesso, uso e contaminação das águas







Fonte: Ex-Libris Comunicação Integrada