Projeto de sustentabilidade e proteção ambiental para as Nascentes do Rio Doce

Editoria: Vininha F. Carvalho 23/10/2008

Aconteceu no último sábado (18), em Desterro do Melo/MG (199 KM de BH), o lançamento do Projeto Agente Ambiental – produtor rural prestador de serviços ambientais. Esse projeto é idealizado pelo Instituto Xopotó, com apoio do Instituto Estadual de Florestas – IEF, por meio da Associação dos Produtores Florestais do Sudoeste de Minas Gerais – APFLOR, e em parceria com a Universidade Federal de Viçosa – UFV.


Contempla ações a serem desenvolvidas nas propriedades rurais e busca fomentar uma produção rural sustentável, onde as potencialidades das propriedades podem ser trabalhadas, sem comprometer as riquezas naturais existentes.


O evento contou com a presença do diretor de Desenvolvimento e Conservação Florestal do IEF, Sr. Luiz Carlos Cardoso Vale, além de outras autoridades do governo estadual, lideranças locais, produtores rurais e representantes de instituições.

Durante o lançamento, o Presidente do Instituto Xopotó, José Geraldo Rivelli Magalhães, apresentou o projeto e as ações para 2009 e a equipe da UFV expôs aos presentes o diagnóstico socioambiental realizado na região.

O evento ainda contou com uma palestra especial, ministrada pelo consultor na área de responsabilidade social e apoio ao 3º Setor, um dos fundadores da SOS Mata Atlântica, do Instituto Vera, da Mães da Sé, entre outros, Sr. Ricardo Maluf.

Os produtores também esclareceram suas dúvidas em um debate, composto pelo diretor do IEF, presidente da APFLOR, professores e coordenadores da UFV e pelo presidente do Instituto Xopotó.

Ao fim do lançamento, foi entregue aos apoiadores do Projeto o documento com os resultados do diagnóstico e uma série de ações propostas para o ano de 2009, em continuidade e ampliação dos trabalhos.

Expectativas:

As ações propostas são frutos do diagnóstico socioeconômico e ambiental realizado em 2008 nas propriedades rurais dos municípios de Alto Rio Doce (231 km de BH), Brás Pires (208 km de BH), Cipotânea (184 km de BH) e Desterro do Melo (211 km de BH).

Foram visitadas 40 propriedades rurais, sendo 10 em cada município, e recolhidas informações relevantes sobre a realidade social e econômica dos produtores rurais e dos recursos naturais existentes na região, que se encontram situadas na Mata Atlântica mineira e possuem grande riqueza de recursos hídricos, além de jazidas de caulim, feldspato, grafite entre outros minerais.

No entanto, essa região tem sofrido com a interferência negativa do homem, cujos reflexos sociais, econômicos e ambientais são nítidos nos dias atuais: redução drástica da vazão do rio Xopotó, pelo desaparecimento de inúmeras nascentes e alto grau de empobrecimento dos solos, devido ao manejo inadequado. Necessita, portanto, de aprimoramento da assistência técnica e de incentivos aos pequenos produtores.

Segundo o diretor do IEF, Luiz Carlos Cardoso Vale, o brilhantismo do evento foi a prova do tamanho e da importância do projeto na região. “Essa é uma região que merece atenção, a nascente de um rio deve ser preservada de todas as formas, pois é a sustentação da vida. O Instituto Xopotó está superando todas as expectativas na execução desse projeto e agora é seguir em frente”, salienta.

Para Almério Rocha, produtor de Desterro do Melo, a situação daqueles que precisam plantar é muito difícil, sobretudo porque os fertilizantes e adubos são caros e o preço do milho não consegue cobrir os gastos. “O produtor é muito sofrido, tudo é caro e não dá nem para pagar mão-de-obra, pois não compensa o preço da venda”, desabafa.

A mesma opinião é compartilhada por Manoel Lino Coelho, da mesma cidade e de José Manuel de Souza, da cidade de Brás Pires. De acordo com os produtores, o projeto Agente Ambiental traz esperança para a região, pois além de conservar os recursos naturais, auxiliará os produtores na melhor forma de produzir, gastando menos e produzindo mais. “É bom ver a boa vontade do Instituto em nos ajudar. Com a benção de Deus, tudo vai dar certo”, enfatiza Manoel Coelho.

De acordo com Ivo Moreira Magalhães, produtor de Brás Pires, o projeto vem para alavancar o crescimento das pequenas propriedades. De acordo com o produtor, sua expectativa principal é a continuidade do projeto, que pode levar à região mais qualidade de vida. “O evento foi ótimo, vemos que é um projeto e estamos confiando no que há por vir”, afirma.

Segundo Pedro Ferreira Milagres, de Alto Rio Doce, o projeto Agente Ambiental é uma ajuda fundamental aos produtores e auxiliará na troca de experiências. “É preciso que o projeto cresça e amadureça a cada dia mais, e, para isso, precisamos estar sempre unidos para nos conhecermos melhor. Esse evento veio para marcar o início de uma grande virada nas nossas vidas”, salienta. Para Pedro, é preciso que aconteça, a partir de agora, mais reuniões, como forma de unir produtores, técnicos e mediadores, como o Instituto.

Ary Gomes Moreira, produtor de Cipotânea, tem em suas terras 60% de mata nativa. “Não podemos aumentar a produção por causa da lei, por isso precisamos de incentivos”, declara.

Para o professor do Departamento de Engenharia Florestal da UFV e responsável técnico do projeto, Laércio Jacovine, o lançamento do evento superou as expectativas, principalmente quanto à participação dos produtores, pois segundo ele é difícil a mobilização desse setor. “Agora é continuar e buscar formas de implementar as ações da melhor forma possível”, afirma.

De acordo com Ricardo Maluf, um projeto bem estruturado como o Agente Ambiental pode conseguir diversas formas de investimento, pois é interesse de todos a preservação e o crescimento econômico da região. “Crédito hoje tem muito, é preciso procurar nos lugares certos, como em linhas de crédito no exterior e parcerias público- privado. Para o Instituto, não será difícil a busca por fomentos, pois vejo muita vontade, determinação e paixão na equipe”, enfatiza.

Para o presidente do Instituto Xopotó, José Geraldo Rivelli, o lançamento do projeto está sendo a concretização de um sonho de poder gerar crescimento na região. “A intenção do Instituto é melhorar a qualidade de vida nas Nascentes do Rio Doce e, para isso, não mediremos esforços e construiremos juntos as próximas etapas”, afirma.

Algumas ações de sustentabilidade e proteção ambiental propostas para 2009

Realização do mesmo diagnóstico em mais cinco municípios na bacia do Rio Piranga e de mais quatro municípios da bacia do Rio Xopotó, como forma de ampliar a base de informações;

Implantar em Brás Pires, onde se localiza a sede do Instituto, um viveiro para produção de mudas de espécies nativas regionais, para recomposição das áreas de nascentes;

Realização de dois seminários para apresentação dos resultados do diagnóstico da bacia do rio Piranga e a exposição dos resultados complementares da bacia do rio Xopotó. Nestes seminários, serão utilizadas metodologias participativas para identificar demandas prioritárias de ação, de acordo com a visão dos produtores e lideranças sociais;

Implantação de ares de recomposição de nascentes e restauração de áreas degradadas, inicialmente, em três municípios, como unidades de demonstração em cada uma das bacias;

Iniciar ações com vistas ao estabelecimento do Sistema Conservador/Recebedor, em cinco propriedades de cada bacia, como unidades de demonstração, com o objetivo de sensibilizar os órgãos governamentais, estaduais e federais, para viabilidade objetiva de conservação;

Formatar o Pagamento por Serviços Ambientais - PSA, a partir da construção de uma metodologia que contemple todos os parâmetros que possam remunerar, tais como:

· Proteção à biodiversidade;
· Proteção dos recursos hídricos;
· Proteção aos aspectos cênicos;
· Diminuição de emissões de CO².

Fonte: Instituto Xopoto