Chuva e solo: uma questão de risco

Editoria: Vininha F. Carvalho 13/04/2010

Na semana passada, o país ficou estarrecido com as mortes trágicas na Capital do Rio de Janeiro, ocorridas por conta das chuvas fortes e das construções em áreas geotecnicamente instáveis. Um mar de lama cobriu vidas e sonhos de centenas de pessoas. Em meio ao caos, bombeiros e voluntários ainda se lançam em uma tarefa árdua e sem fim, recuperar pessoas e bens perdidos debaixo dos escombros.

A tragédia já estava anunciada: casas construídas sob lixões em áreas de encostas, uma cidade invadida pelo lixo jogado nas ruas, uma conjunção de massas de ar opostas, além do aquecimento atípico da água do mar no litoral carioca. O resultado foi o caos.

Vale ressaltar que chuva e solo sempre tiveram uma relação delicada na natureza, que envolve muitos riscos, pois um sempre compromete o outro. Com os processos de devastação, seja pela derrubada de matas ciliares e de cabeceiras de morros, ocupação de encostas, impermeabilização do solo, vazamentos de resíduos contaminantes ou descarte inadequado de sólidos, os alagamentos e deslizamentos de terra por conta das chuvas ficaram ainda mais fortes e abruptos, não só em alguns locais, mas no mundo inteiro. O aquecimento global também interfere para que as tempestades sejam mais intensas, aumentando os riscos meteorológicos e aqueles causados ao solo.

Na situação sofrida pelo Rio de Janeiro, a culpa deve ser atribuída a todos. Desde o cidadão que arremessou uma garrafa plástica pela janela do carro e obstruiu o sistema de drenagem até o governo que não fiscalizou corretamente a construção de moradias em locais impróprios e não ofereceu o básico em segurança e saneamento para a população. Sem contar com as mudanças climáticas trazidas pelo aquecimento global, que requerem maior atenção e investimento por parte dos órgãos públicos em tecnologias para monitoramento e alerta local, entre outros fatores.

Agora, a saída é a conscientização da sociedade e do governo de que a natureza devolve o que se faz a ela. Uma latinha jogada na rua hoje pode ser a enchente de amanhã. A falta de saneamento ou de vistoria na construção de habitações em locais impróprios hoje é a morte de centenas e o gasto de verba pública com indenizações e auxílios à população amanhã. A impermeabilização excessiva do solo em casas e ruas hoje é a inundação de amanhã.

A mudança é fundamental para que o ciclo não se repita. Mais investimentos em tecnologias para o meio ambiente também.





Fonte: Mauro Banderali é especialista em instrumentação ambiental da Ag Solve