Observação do Boto-Cinza impulsiona a economia de Cananéia

Editoria: Vininha F. Carvalho 12/11/2012

Na década de 1990, a cidade de Cananéia, em São Paulo, descobriu sua vocação turística, aquela que iria alterar radicalmente o perfil de seus visitantes e habitantes.

Se, duas décadas antes, nos anos 70/80, a região era frequentada apenas por pescadores esportivos e suas respectivas famílias, hoje, pode-se dizer que o turismo náutico revelou o potencial do município para o desenvolvimento econômico.

Dentre os atrativos naturais da região, está o whalewatching, ou seja, a oportunidade de observar um cetáceo (baleia ou golfinho) em ambiente natural.

O Boto-Cinza, uma espécie de golfinho, pode ser observado ao longo de todo o ano na região, tanto em pontos estratégicos em terra, como na Praia do Itacuruçá, na Ilha do Cardoso, como em embarcações.

Hoje, Cananéia tem à disposição dos turistas tanto grandes escunas quanto pequenas embarcações com motor de popa que saem diariamente do Trapiche Municipal, na Avenida Beira-mar, em direção à Baía de Trapandé, também chamada de Baía dos Golfinhos.

Tal atividade revela o impacto positivo do whalewatching em Cananéia e faz com que muitos pescadores mudem de atividade e passem a trabalhar com o turismo, especialmente nos meses de verão.

Proporcional à quantidade de embarcações disponíveis para os visitantes, a rede hoteleira do município também teve forte progresso. Atualmente, entre hotéis, campings, pousadas, casas e quintais de moradores locais, Cananéia, Ilha Comprida e Ilha do Cardoso, além da parte continental de Cananéia, têm capacidade para receber cerca de 5.000 turistas.

Outro ponto fundamental da observação do boto-cinza é seu aspecto quanto à pesquisa científica e, consequentemente, à preservação da espécie e seu ambiente.

O Projeto Boto-Cinza foi um dos 44 aprovados dentre os 892 apresentados na Seleção Pública de Projetos do Programa Petrobras Ambiental.

Com a conquista do patrocínio da Petrobras para os anos de 2011 e 2012, o Projeto Boto-Cinza, realizado pelo IPeC, está conseguindo manter 14 linhas de pesquisa divididas em três grupos: estudos de padrões populacionais, estudos de ecologia comportamental e monitoramento de praias, que permitem os estudos da biologia através de carcaças encontradas.

O potencial turístico da região de Cananéia e Ilha Comprida, dois dos 15 municípios paulistas considerados Estâncias Balneárias do Estado de São Paulo, por atingir pré-requisitos definidos por Lei Estadual, poderá possibilita maior obtenção de recursos para pesquisas científicas e o turismo regional.

Além disso, o Programa de Polos Turísticos do Plano Nacional de Turismo da EMBRATUR cita o litoral sul paulista como uma das áreas potenciais de ampliação da oferta de instalações náuticas.

Se realizada de uma forma consciente e amparada por condições de trabalho e de sustentabilidade, a atividade de observação de botos-cinza em Cananéia pode ser mais rentável do que é atualmente, em que apenas 7% dos turistas procuram a região especialmente para ver este cetáceo.

Isto é comprovado pelo fato de que cerca de 25% dos mais de 1.000 turistas aqui entrevistados afirmaram que o que mais gostaram na sua viagem à região foi justamente ver de perto o boto-cinza.


Projeto Boto-Cinza

Criado em 1981, o Projeto Boto-cinza tem como princípio desenvolver o conhecimento técnico-científico sobre a biologia e a ecologia do Boto-Cinza, com o objetivo de contribuir para a gestão, conservação e o uso sustentável dos ecossistemas e recursos naturais da região do estuário Lagamar que abriga essa espécie e tantas outras.

O Boto-Cinza (Sotalia guianensis) é uma espécie de golfinho de pequeno porte, que habita as regiões costeiras e estuarinas, distribuindo-se da costa de Santa Catarina até Honduras, porém com grande concentração em algumas regiões da costa brasileira. Seu tamanho, quando adulto, pode variar de 1,5 a 2,10 metros, pesando até 120 quilos e cerca de 30 anos de idade.

Estes animais alimentam-se de peixes, lulas e camarões. Como vivem próximos às regiões costeiras, sofrem grande pressão das atividades e ocupações humanas.

Sendo assim, a espécie se torna chave para o desenvolvimento de ações de conservação, pois a sobrevivência depende diretamente da manutenção do equilíbrio de todos os ambientes associados, como oceanos, praias, estuários, manguezais e mata atlântica.

Por isso, o Projeto Boto-Cinza, além das atividades de pesquisa, também desenvolve atividades de educação ambiental e de políticas públicas como complemento para as ações de conservação.

O Projeto Boto-Cinza é uma realização do Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) e tem patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental.

Fonte: Marcos Thadeu Vargas