Terremotos, quando a natureza gera pânico

Editoria: Vininha F. Carvalho 08/08/2012

A sismologia, ciência que estuda os terremotos, deve conseguir um grau de confiabilidade semelhante ao da meteorologia dentro de alguns anos, porque hoje a previsão do tempo é relativamente confiável no prazo de poucos dias.

Embora ainda não há como prever terremotos, já é possível constatar que a probabilidade da ocorrência de um terremoto em determinado local, pois muitos eventos o antecedem. Um deles é a sobrecarga sobre placas tectônicas que ocorre à medida que elas se movem e acumulam estresse. Esse estresse se concentra e uma hora irrompe.

Quanto mais aumenta o intervalo entre abalos em uma região, maiores tendem a ser suas intensidades, pois o estresse entre placas tectônicas vai se acumulando.

“Mesmo pequenos ganhos em sistemas de alerta podem aumentar nossa resistência a terremotos catastróficos”, afirma Thomas Jordan, diretor do Centro de Terremotos do Sul da Califórnia.

Um tremor de terra ocorrido na cidade mineira de Montes Claros ( 418 km de Belo Horizonte -MG) , no dia 19 de maio, foi sentido em praticamente todos os bairros da cidade.

De acordo com o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília , a intensidade do tremor ficou entre 3,8 e 4,2 graus na escala Richter, com duração estimada em três segundos.

O incidente em Montes Claros foi o segundo tremor de terra registrado em três dias no país . Na quinta-feira , 17 de maio, um tremor também assustou os moradores de municípios localizados ao norte de Goiás, como Mutunópolis e Santa Tereza de Goiás.

No Brasil já não é possível descartar a ocorrência de outros terremotos , por isto o tema será amplamente debatido no 46º Congresso Brasileiro de Geologia, que acontecerá em setembro , na cidade de Santos (SP).

Por definição, um terremoto é classificado como tal quando envolve um processo de geração e propagação de ondas sísmicas no interior e na superfície terrestre e que pode ter proporções catastróficas. Logo, sua origem pode ou não estar ligada as placas tectônicas ou litosféricas.

As placas tectônicas, que possuem em média 100 km de espessura e composição rochosa se movimentam de forma contínua, na ordem de centímetros por ano com velocidades irregulares.

Por exemplo, a placa sul-americana, na região equatorial, possui um movimento estimado em 7 cm por ano, enquanto na latitude próximo do Estado de São Paulo não chega em 2 cm por ano. Estes movimentos, dependendo da influência do manto terrestre e, por consequência, do local do globo podem ser de afastamento, de choque ou lateral, ressalta o professor doutor Fábio Braz Machado, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),- “Logo, nestes movimentos quando se atinge o limite de resistência da rocha que a compõe ocorre uma ruptura (falha geológica), e o movimento repentino entre os blocos de cada lado da ruptura geram as vibrações que se propagam em todas as direções. O ponto onde ocorreu a geração deste sismo é denominado de hipocentro enquanto que sua projeção na superfície é denominado de foco ou epicentro.

É fato, portanto que os grandes terremotos sempre estarão associados aos limites das placas tectônicas o que logicamente já configura áreas como estas como aquelas de risco, tais como a região do Chile, oeste dos Estados Unidos, Japão, China, Haiti, etc... No entanto o risco de consequências trágicas aumenta em função do preparo do país para enfrentar uma situação sem nenhuma, ou pouco anuncio” , orienta o doutor Fábio Braz Machado.

Segundo este especialista, geólogo, mestre, doutor e pós-doutor em Geociências, o terremoto no Japão em 2011, com 9 graus na escala Richter dizimou mais de 9 mil pessoas.

Um terremoto desta magnitude é capaz de deslocar grandes blocos de rochas, alterar ao relevo do local e arremessar objetos ao ar. Este número de mortos poderia ter sido muito maior se a população não tivesse, desde cedo, o treinamento adequado para lidar com este tipo de situação e, além disso, não tivesse prédios com alicerces que mitigam o efeito da ondas sísmica geradas pelo tremor.

O mesmo cuidado não se aplica ao Haiti em 2010, onde um terremoto com magnitude 7 levou a óbito mais de 200 mil pessoas e mais de 1 milhão de desabrigados.

De fato a ultima vez que o mundo presenciou um número tão alto de mortos em função de tremores foi em 1976 na China, com 7,6 de magnitude dizimando 250 mil pessoas, no entanto ainda longe do recorde de 830 mil no mesmo país em 1556 (sem medição). Logicamente o fato de serem áreas densamente e descontroladamente povoadas também contribui para os números.

Num outro exemplo, ele cita , que o terremoto em Califórnia, em 1992, com 7,5 de magnitude gerou uma ruptura na superfície de 70km e, mesmo assim, felizmente dizimou apenas 1 pessoa. É notável, portanto que o risco de um terremoto ser ou não tão catastrófico não esta somente ligado a intensidade do mesmo mais também a política de preparo da população do local atingido.

Tratando-se de um fenômeno puramente natural, cujo motor nos remete a parte interna do planeta é impossível prever, pois muito pouco conhecemos sobre dinâmicas envolvidas, mas nem por isso compreender dentro de um certo limite.

Fato é que a costa oeste americana, em um intervalo de tempo meramente desconhecido terá o Estado da Califórnia dividido sendo criado uma grande ilha que poderá chegar em 2 mil km. As imagens desta falha em movimento são tão evidentes que podem ser facilmente visualizadas em softwares livre como Google Earth e todo cidadão californiano sabe disso.

Embora o Brasil, dentro do cenário geológico atual esteja em uma situação estável, no centro de uma placa tectônica, e longe dos grandes epicentros não pode se dizer, de forma alguma, que o mesmo esteja totalmente livre de influências.

Os tremores associados aos Andes (área de choque com a placa de Nazca) geram sismos que facilmente são sentidos nos estado do Acre, oeste de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com magnitude que podem ultrapassar 5,0. No entanto, pela baixa densidade populacional nem sempre passa a ser matéria jornalística.

Por vezes, os reflexos destes sismos na costa da Cordilheira dos Andes podem ser percebidos em áreas mais longínquas. Como em 2011 na cidade de Campinas no Estado e São Paulo, onde pessoas nas áreas mais altas dos edifícios sentiram as vibrações de um tremor de 6,2 na Bolívia.

Cabe ressaltar ainda que terremotos não precisam necessariamente ter seu hipocentro na zona limítrofe das placas tectônicas, pois na própria formação da crosta terrestre, na parte superior e visível da placa, também existem falhas geológicas na qual ocorrem ou ocorreram deslocamento relativos entre dois blocos podendo ser muito localizado ou atingir extensões continentais submetidas a processos de tensão durante milhares de anos.

Como exemplo, temos os frequentes tremores nas nossas bacias marginais offshore, na camada de sal que isola nossas reservas petrolíferas, contemplada por uma grande número de fallhas em sua porção mais superior que pode gerar sismos acima de 5,0 de magnitude e aproximadamente 250 km da costa brasileira. Ou ainda, o recente caso da cidade de Montes Claro, norte do Estado de Minas Gerais, onde em análise preliminar uma falha geológica que passa por baixo da cidade teria sido responsável por um tremor de magnitude acima de 4,0.

Por fim, para o Brasil, estes tremores só nos chamam atenção para a necessidade de conhecermos, o máximo quanto possível, a superfície física do território que habitamos.

Esse conhecimento vem-se por meio de mapeamento geológico, em escalas diversas, atualmente gerenciado pelo Serviço Geológico do Brasil (órgão federal oficial) que conta com um contínuo a absoluto apoio das universidades públicas em suas pesquisas, afirma o professor doutor Fábio Braz Machado, presidente da comissão organizadora do 46º Congresso Brasileiro de Geologia

Fonte: Vininha F. Carvalho - diretora da Del Valle Editoria