O futuro da gestão de resíduos no Brasil com a chegada de uma política nacional para o setor

Editoria: Vininha F. Carvalho 12/09/2012

Ante a perspectiva real de contarmos com uma Política Nacional de Resíduos Sólidos, um novo panorama se delineia no horizonte nacional e certamente abrirá novos caminhos e trará novos desafios para todos os atores envolvidos.

Antever o futuro é sempre uma ação incerta e arriscada, no entanto em determinadas situações torna-se possível fazer um prognóstico das tendências de um setor.

A chegada da Política Nacional de Resíduos Sólidos no ordenamento jurídico brasileiro, e sua integração à Política de Meio Ambiente e à Política de Saneamento Básico, completará o regramento necessário para propiciar avanços concretos na gestão de resíduos sólidos, porém implicará necessariamente em mudanças nos sistemas adotados atualmente.

Não são poucas as dificuldades enfrentadas pelo setor de resíduos. A ausência de uma norma de âmbito nacional não significa apenas uma omissão, mas afeta maldosamente o país, uma vez que faltam diretrizes, princípios claros e instrumentos para superação dos obstáculos atuais e desafios futuros.

O crescimento da geração de resíduos, a complexidade da composição do lixo urbano e a destinação final são os principais problemas atuais que demandarão grande parte da atenção mais à frente.

A geração de resíduos é influenciada basicamente por dois fatores: população e os padrões de consumo da mesma. O crescimento populacional é um fenômeno ainda sem grandes controles enquanto o desenvolvimento econômico e o aumento do poder aquisitivo da população são fenômenos que se intensificam dia a dia, principalmente nas sociedades em desenvolvimento, com impacto direto na geração de resíduos.

O aumento da quantidade de materiais descartáveis e uma cada vez menor durabilidade de diversos materiais também trazem maior quantidade de resíduos sólidos.

Nesse ponto, o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2009, publicado recentemente pela ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, demonstrou que em 2009 foram geradas 57 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos no país, o que representou um aumento de cerca de 8% de 2008 para 2009, frente a um crescimento populacional de 1%.

Além do aumento na geração, a composição dos resíduos descartados está cada vez mais complexa, com novos materiais e novas combinações químicas. Um exemplo são os eletroeletrônicos, cujo descarte tem crescido ultimamente, fazendo dessa fração uma das principais preocupações para os gestores de resíduos, frente a um mundo cada vez mais equipado e plugado.

É a destinação final, entretanto, que registrou o principal déficit do setor. De acordo com a publicação da ABRELPE, em 2009 cerca de 30 milhões de toneladas de resíduos urbanos foram dispostas em locais inadequados.

A parcela com destinação adequada tem sido encaminhada para unidades cada vez mais distantes dos centros de geração e muitas delas já estão no fim de sua vida útil e precisam ser substituídas por novas centrais licenciadas.

Por tudo isso a vigência de uma Política Nacional de Resíduos precisa ser capaz de reverter os pontos negativos e promover avanços e é essa a expectativa do setor, que após anos de discussão aposta no texto aprovado pelo Senado, para estimular novas infraestruturas e promover o desenvolvimento tecnológico, com a consequente profissionalização dos negócios.

O momento dos debates e das discussões já passou, agora é a hora de encontrar os meios mais adequados para se implementar as disposições da lei, fazendo-se a transição de um sistema precário, no qual ainda prevalecem os lixões, para um sistema plenamente adequado e, então, dar um salto de modernidade com a adoção de tecnologias de ponta já amplamente adotadas.

Para tanto, faz-se indispensável que sejam apontadas as fontes de recursos e seja estabelecido um modelo de custeio, itens necessários para viabilizar o novo sistema idealizado e as mudanças dele decorrentes. Sem isso muito da Lei ficará nas boas intenções.



Fonte: Carlos Roberto Vieira da Silva Filho - é advogado pós-graduado em Direito Administrativo e Econômico pela Universidade Mackenzie. Diretor Executivo da ABRELPE