Estudo analisa gestão da visitação no Parque Estadual de Campos do Jordão

Editoria: Vininha F. Carvalho 04/07/2013

As Unidades de Conservação da Natureza, como são denominadas as áreas protegidas, têm sua história a partir do século XIX. No entanto, foi a partir da terceira década do século seguinte que elas ganharam forças para se desenvolver no Brasil.

O primeiro Parque Nacional criado no país, em 1937, foi o de Itatiaia, seguido pelo de Iguaçu e Serra dos Órgãos, originados no final da década de 1930.

No início da década de 1940, o estado de São Paulo passou a fazer parte desse novo cenário brasileiro quando criou o Parque Estadual de Campos do Jordão (PECJ), em 1941, baseado nos conceitos correspondentes aos propostos pelos EUA e Europa.

Apesar dessas intenções, a mentalidade brasileira da época sobre o assunto e a possibilidade de apropriação da oportunidade de recreação, educação e interpretação ambiental dentro dos parques nacionais, estaduais ou municipais, ainda estava só começando, o que faz da visitação em Unidades de Conservação do nosso país uma atividade recente, que vem se consolidando em importância e procedimentos impulsionando a demanda a crescer a cada ano.

Com o propósito de caminhar em direção à proteção dos ecossistemas e com o objetivo de analisar a gestão de visitação dessa categoria de Unidade de Conservação (UC) no estado de São Paulo, foi delineado um estudo de caso sobre o PECJ na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), e no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (USP/CENA), destacando o seu papel como UC e como local de lazer.

“O município de Campos do Jordão tem no turismo sua principal atividade econômica e, ao mesmo tempo, se encontra num espaço de áreas protegidas que visam a conservar a biodiversidade. Seu Parque Estadual é o mais antigo entre os paulistas e um dos primeiros do Brasil”, explicou a gestora ambiental Sara Ruiz Hirata, autora do estudo.

A abordagem do caso escolhido apoiou-se na revisão de literatura, análise de documentos e legislação pertinentes, visita a campo, diálogo com a gestão atual e passada do Parque, com os prestadores de serviços de apoio ao visitante e uma amostra do público que visitou a área em julho de 2011.

Motivada por questionamentos a respeito das modificações da gestão do PECJ desde a criação do Sistema Estadual de Florestas (SIEFLOR) e a percepção dos envolvidos sobre ações voltadas ao uso público, a pesquisa alcançou resultados que evidenciaram mudanças no direcionamento da gestão do Parque e implantação de medidas para melhorar a qualidade de recepção dos frequentadores.

“Conhecer o perfil de quem esteve na gestão do PECJ e a sua visão sobre os problemas ali existentes foi importante, assim como conhecer o perfil dos prestadores de serviços que apoiam o atendimento ao visitante e sua experiência de relação com o Parque”, destacou a pesquisadora.

O estudo relata que em 2011, quando a investigação em campo foi feita, apenas dois anos tinham se passado desde que a Fundação Florestal tornou-se órgão gestor do PECJ, o que limitou a análise a poucos fatos decorridos nesse pequeno período de tempo.

“Nessa temporada não foram observadas mudanças significativas, mas foi notado um direcionamento diferente nas propostas atuais em relação ao que ocorria antes. Assim, novas ideias passaram a fazer parte do planejamento e da gestão do PECJ”, frisou a gestora.

Diante do cenário em estudo, foi possível compilar os principais apontamentos levantados durante a pesquisa e, assim, formular um conjunto de sugestões para aprimorar a gestão de visitação dos Parques Estaduais de São Paulo e, especificamente, do PECJ.

“A contribuição dos visitantes é uma das primeiras coisas que deve ser considerada no planejamento das ações. Suas principais reivindicações referem-se ao incremento da infraestrutura para recepção dos visitantes e também suporte de mais monitores e atividades de educação e interpretação ambiental”, destacou Sara.

Por outro lado, o estudo relata que há a compreensão dos gestores a respeito da problemática e a incompatibilidade entre os anseios dos visitantes, os esforços da gestão e o acompanhamento de recursos para promover tais medidas, uma vez que, especialmente a construção de instalações e a contratação de monitores são duas requisições que envolvem planejamento e investimentos de recursos, uma limitação recorrente entre as UCs paulistas e brasileiras.

“Mesmo cientes desses entraves, é preciso se dedicar ao planejamento das ações prioritárias para que, no momento oportuno, elas sejam implantadas e geridas, proporcionando a evolução e efetividade não apenas da gestão, mas da existência de um Parque ou de uma UC”.

Esses e outros apontamentos são destacados na pesquisa tais como a necessidade de programas de educação e interpretação ambiental; a compreensão de que a área não se trata de um Horto ou mais um atrativo turístico do município, enxergando suas finalidades e papéis originários na preservação de remanescentes dos ecossistemas brasileiros e espaço para desenvolvimento de atividades que envolvam o contato entre o homem e a natureza; o aperfeiçoamento da comunicação entre o Parque e o visitante; parceria entre a gestão do Parque e o Poder Público Municipal para promover o PECJ juntamente com os demais atrativos turísticos, reforçando sua função maior que ultrapassa esse conceito; criação de um site ou inserção em redes sociais como um empreendimento inovador.

“Esses instrumentos de interação são muito pertinentes no momento tecnológico em que nos encontramos e podem ser decisivos na inserção da população ao ambiente natural protegido, esclarecendo os benefícios que os dois lados recebem nessa troca mútua, não apenas no PECJ, mas também nas demais UCs paulistas”, ressaltou a pesquisadora.

Concluindo, em relação à percepção das gestões atual e da passada, notou-se um otimismo sobre o potencial da visitação do Parque, a importância das atividades de recreação, educação e interpretação ambientais.

Os representantes dos serviços de apoio à visitação avaliaram positivamente as medidas implementadas que atingiram o uso público e o seu ambiente de trabalho.

Os formulários empregados com os visitantes sugerem que os indivíduos que vão ao PECJ estão satisfeitos com os atrativos e com a experiência da visita, mas reivindicam por mais infraestrutura de atendimento e monitores ambientais.

Como um todo, observou-se que a efetividade de gestão da visitação do PECJ tem sido buscada e passos importantes já foram dados restando, para os próximos anos, o enfrentamento de problemas como falta de recursos e processos burocráticos excessivos para que as funções do Parque sejam plenamente contempladas.

Sara Ruiz Hirata apresentou a dissertação ‘Gestão da visitação em Unidades de Conservação: o caso do Parque Estadual de Campos do Jordão, SP’, para obtenção do título de Mestra em Ciências, pelo Programa de Pós-graduação (PPG) em Ecologia Aplicada (interunidades), em 28 de junho de 2013.

A gestora ambiental foi orientada pela professora Odaléia Telles Marcondes Machado Queiroz, do Departamento de Economia, Adminstração e Sociologia (LES) da ESALQ, e co-orientada por Solange T. de Lima Guimarães, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA).

Fonte: Alicia Nascimento Aguiar