São Sebastião sediou a Festa Cultural do Projeto Tecendo as Águas

Editoria: Vininha F. Carvalho 20/03/2014

O projeto Tecendo as Águas, uma iniciativa de educação, gestão e conservação ambiental com foco na gestão compartilhada de bacias hidrográficas do litoral norte de São Paulo, tem alertado a sociedade sobre a situação crítica das águas na região.

Realizado pelo Instituto Supereco, a iniciativa tem como objetivo contribuir para a recuperação da qualidade das principais fontes de abastecimento dos sistemas Porto Novo – São Sebastião e São Francisco.

Além disso, pretende promover a conservação da Sub-bacia do Rio Juqueriquerê e da Sub-bacia do Rio São Francisco. Até 2015, o projeto pretende atender mais de 60 mil pessoas direta e indiretamente.

A iniciativa tem patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e parceria da Chevrolet e do Instituto Educa Brasil.

Conta também com o apoio do Comitê das Bacias Hidrográficas do Litoral Norte (CBHLN), das prefeituras de São Sebastião e de Caraguatatuba, do Instituto Trata Brasil, da rede Made In Forest, do Centro de Educação Ambiental de Guarulhos (CEAG) e da Organização Brasileira de Mulheres Empresárias (OBME).

Para chamar a atenção para esses temas, no último sábado (15/03), o Instituto Supereco e a Prefeitura de São Sebastião, em parceria com a Chevrolet e o Instituto Educa Brasil, realizaram uma festa cultural para sensibilizar e mobilizar a população.

A programação contou com atividades de educação ambiental, como plantio de árvores e monitoramento das águas do rio São Francisco, roteiro guiado de ecoturismo histórico e cultural e diversas atrações culturais, como apresentações musicais, danças de rua e circulares, congada, maracatu, bumba meu boi, puxada de rede e exposição, entre outros.

O evento foi dividido em três espaços principais onde cada um deles representava um objetivo do projeto.

Entre os presentes estavam o prefeito de São Sebastião, Ernane Bilotte Primazzi que destacou o trabalho em parceria desenvolvido pelo projeto Tecendo as Águas para sensibilizar as crianças.

“Toda parceria é importante. Precisamos passar para as crianças a origem das coisas e despertar isso neles. Eles estão acostumados a beber a água de garrafas, bebedouros, mas não sabem de onde vem a água e a importância de se preservar para ter água de qualidade. Espero que o projeto seja multiplicado para outras regiões para levar a importância da água para a manutenção de nossas vidas”, afirmou.

O evento também contou com representantes de diversas culturas brasileiras, como caiçaras e indígenas. Entre eles estava Yaporan, da etnia Kariri xocó, que vive na margem do Rio São Francisco, em Alagoas. Ele falou sobre como sua aldeia se preocupa com as questões ambientais e como isso está bem alinhado com as atividades do Tecendo as Águas.

“Na nossa aldeia educamos nossas crianças para que elas cuidem do meio ambiente. Antes você via sacola e papel jogado dentro da aldeia. Depois que vimos o que aconteceu em algumas cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, nos conscientizamos para cuidar do nosso meio ambiente e passamos para todas as nossas crianças.

Hoje quem visita a aldeia Kariri xocó vê a aldeia limpa. Isso foi feito por um grupo de 20 pessoas, que convidou nossos parentes, hoje quase três mil indígenas.

Conscientizamos todos, pois eles não tinham consciência que o lixo só atrapalha a gente. Isso é o que faz o Tecendo as Águas, traz as pessoas para resgatar o que foi perdido, pois o que a natureza pede nós temos que obedecer e atender.

A natureza nos dá tudo, a mãe terra e a mãe água. Peço que todos se conscientizem, respeitem a natureza, pois com isso respeitamos nosso Pai maior”, afirmou.

Entre os destaques do evento estavam atividades que reforçam o termo tecer do nome do projeto, ou seja, a rede criada pela iniciativa com diversos objetivos alcançados de forma alinhada.

“O projeto Tecendo as Águas tem uma atuação bastante relevante dentro do programa Petrobras Socioambiental. Primeiro por trabalhar com o tema água, uma questão estratégica para a Petrobras.

Em segundo lugar, pela maneira como desenvolve suas atividades. Uma atuação em rede é fundamental para qualquer ação socioambiental, pois seus resultados ficam muito mais perenes quando você articula governos, empresas, crianças, etc. Isso fará com que o Tecendo as Águas sirva de exemplo para projetos novos apoiados pelo Programa”, afirmou Gislaine Garbelini, gerente setorial de Programas Ambientais/Gerência de Investimentos Sociais da Petrobras.

A coordenadora geral do Supereco, Andrée de Ridder Vieira, explica que a festa alcançou seu objetivo de sensibilizar e mobilizar moradores e parceiros para atuarem na recuperação da Bacia do Rio São Francisco.

“Nesse grande evento de lançamento oficial do projeto, ficamos muito felizes pela presença de representantes da cultura caiçara, de indígenas e as atividades culturais apresentadas. Podemos perceber a força das pessoas e o que cada um traz como identidade, isso fará a diferença do Tecendo as Águas”, comemorou.

“A parceria entre o Supereco e o Educa Brasil marca a busca por um senso comum. Esse senso comum é o projeto Tecendo as Águas que quer fazer e não apenas dizer como se faz”, afirmou Paulo Nelson do Rego, presidente do Instituto Educa Brasil.

Continuando suas ações, na próxima sexta-feira (21/03), em São Sebastião, o projeto realizará um mutirão de limpeza do Rio São Francisco. As atividades acontecem em comemoração ao Dia Mundial da Água (22/03).


- Na prática:

O projeto “Tecendo as Águas” surgiu devido à necessidade de melhorar a gestão compartilhada, a qualidade e a conservação das águas devido ao crescimento populacional e contínuo aumento de obras e empreendimentos, estabelecimentos industriais, comércio e edificações na região do litoral norte.

Pelo cenário ambiental de suas bacias hidrográficas, o projeto conta com ações de educação ambiental, educomunicação, gestão ambiental em recursos hídricos, restauração florestal, ecoeficiência em propriedades rurais, ecoturismo, saneamento saúde, qualidade de vida e ações de fortalecimento local e comunitário.

Ele passa por ações que vão desde diagnósticos e mapeamentos da situação da região para o auxílio a políticas públicas e a gestão das cidades, passando por recuperação de corpos d’água e de vegetação ciliar, até análises da qualidade da água e mobilização sobre seu uso racional, entre outras.

Ainda conta com um eixo para o fortalecimento local e comunitário com 15 políticas/programas públicos e seis objetivos socioambientais, fomentando a sustentabilidade técnica, política e comunitária pós-projeto.


- São eles:

* Saberes da Água: iniciativa de sensibilização, educação e mobilização de atores locais para criar uma gestão compartilhada com um programa de educação ambiental, envolvendo escolas da região. Serão capacitados 200 educadores e atendidos mais de dois mil estudantes. Estão previstas ainda a elaboração de biomapas da região, cursos, cadernos de educação ambiental, estudos do meio, etc.

* ​Águas da Mata: recomposição florestal de cinco hectares de matas ciliares em Áreas de Preservação Permanente (APP), totalizando o plantio de 8.400 mudas, além da escolha de até cinco propriedades rurais para implementar modelos de ecoeficiência, incluindo sistemas agroflorestais para melhoria de renda com conservação.

* Se Ligue Nessa Bacia: cadastro de propriedades na sub-bacia do Rio São Francisco, sensibilização para proprietários ligarem sua residência na rede de coleta e tratamento de esgoto, entre outras ações.

* ​Conhecendo as Águas: um diagnóstico socioambiental sanitário da sub-bacia do Rio São Francisco.

* ​Caminho das Águas: roteiros ecoturísticos, educativos, culturais e históricos para a implantação de estudos do meio. A expectativa é que este projeto seja replicado no Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar.

* Ritmo das Águas: geração de conteúdo para disponibilizar informação e conhecimento sobre temas socioambientais e culturais em mídias de rádio, audiovisual e web produzidas pelas comunidades capacitadas.

A proposta é que, a partir dessas redes, sejam realizados 37 encontros de mobilização/capacitação; 19 publicações; 93 produtos de educomunicação e sete bancos de dados, além de diversas ferramentas para apoiar instrumentos de gestão de políticas públicas e de empreendimentos privados e de sociedades.

A iniciativa pretende ainda gerar três iniciativas modelo de gestão com ecoeficiência em propriedades rurais, 17 políticas públicas e 13 Redes/Grupos fortalecidas, entre outras ações.

Em sua concepção, o projeto teve investimento total de R$ 100 mil, incluindo diagnósticos, processo de articulação de parcerias, equipamentos, logísticas (custos com transporte e comunicação), materiais de consumo e principalmente de recursos humanos.

Durante os dois anos, 25 profissionais trabalharão conjuntamente com parceiros em uma gestão compartilhada, mobilizando uma rede dos vários segmentos nas sub-bacias do Rio Juqueriquerê e do Rio São Francisco.

Também já foram criados e serão fortalecidos dois grupos de lideranças comunitárias que serão capacitados para atuarem como monitores e implementadores de intervenções específicas para beneficiar 14 cursos d´agua e 35 nascentes.

Algumas novidades já estão em andamento, como a capacitação dos atores envolvidos para a definição das metas de recuperação e preservação de cursos d’agua e de vegetações ciliares, ações que devem acontecer a partir de abril e pelo período de 12 meses. Outra iniciativa já realizada foi o cadastramento e engajamento dos produtores da bacia.

O projeto Tecendo as Águas já tem dados atualizados de saneamento básico também de três bairros de Caraguatatuba: Porto Novo, Morro do Algodão e Barranco Alto.

A equipe do projeto realizou um levantamento junto à Sabesp sobre as edificações não interligadas ao sistema coletor de esgoto nestes bairros, a fim de diminuir o impacto do esgoto doméstico sobre a qualidade do rio e melhoria da saúde da população.

“A intenção é de viabilizar uma campanha de sensibilização da comunidade para estimular as ligações de suas residências à rede de coleta e de tratamento de esgoto”, vislumbra a coordenadora geral do Supereco.


Fonte: Luiz Soares