ANA divulga publicação especial sobre a Crise Hídrica

Editoria: Vininha F. Carvalho 25/03/2015

Com o objetivo de atualizar a sociedade e contribuir para o debate com relação à atual situação das bacias hidrográficas brasileiras, a Agência Nacional de Águas (ANA) preparou um Encarte Especial sobre a Crise Hídrica, que foi distribuído por ocasião do Dia Mundial da Água, data em que as sociedades de todos os países discutem a situação e desafios da gestão da água.

O encarte, que faz um balanço da crise desde 2012 e das ações regulatórias da ANA, acompanha o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos – Informe 2014.

De acordo com o Encarte, desde o segundo semestre de 2012, observa-se uma gradativa e intensa redução nas taxas pluviométricas (chuvas) em algumas regiões do País, que tem prejudicado a oferta de água para o abastecimento público, especialmente no semiárido brasileiro e nas regiões metropolitanas mais populosas e com maior demanda hídrica (São Paulo e Rio de Janeiro).

Outros setores que dependem do armazenamento da água, como o de irrigação e o de energia hidrelétrica, também estão sendo afetados pela falta de chuvas e pelo menor volume de água armazenado nos reservatórios.

A redução nos níveis de chuvas verificados mensalmente (desde 2012 no Nordeste e desde outubro de 2013 no Sudeste), em relação à média histórica mensal (dados monitorados desde 1930) traz um fato novo, de natureza ambiental, ainda imprevisível.

A compreensão das causas dessas alterações climáticas e das tendências das chuvas interanuais ainda é imprecisa devido, principalmente, ao curto período de observações dessas anomalias.

De acordo com o Encarte, apesar da importância das ações de gestão, e considerando a severidade da seca em decorrência dos baixos índices pluviométricos, deve-se ter atenção especial com as ações estruturantes necessárias para garantir maior segurança hídrica aos sistemas de abastecimento e às atividades produtivas, sendo fundamental reforçar o seu planejamento, providenciar a elaboração dos respectivos projetos e a execução da infraestrutura hídrica, além da construção de um pacto institucional entre os atores envolvidos.


- Nordeste:

O Encarte destaca a grande quantidade de municípios no Nordeste com baixa garantia hídrica. No triênio 2012 a 2014 destaca-se a situação extremamente crítica no Semiárido, onde foram observadas secas com tempos médios de recorrência superiores a cem anos em 2012 e 2013, sendo que em 2014 houve chuvas com frequência normal, mas abaixo da média.

A seca foi particularmente severa no sertão, com situação crítica no Sertão dos Inhamus e Central do Ceará, classificados como extremamente secos, em comparação com a série histórica.

No triênio da seca no Nordeste, o primeiro ano foi crítico em termos climáticos, ocasionando situações dramáticas, com mananciais e estoques sendo deplecionados (descarregados) acentuadamente, seguido de dois anos com pouca precipitação, caracterizados como anos secos.

Do ponto de vista da reservação de água, nesses três anos tem havido o uso compulsório dos estoques de água sem que tenha havido chuva capaz de amenizar ou promover qualquer recarga nos açudes do Semiárido, estratégicos para a população da região.

O nível dos reservatórios do Nordeste caíram de 61,7% em maio de 2012 para 25,3% em março deste ano. As ações de regulação no Nordeste neste período variaram da redução da vazão de defluência de água dos reservatórios até a fixação de dias alternados para captação de água em rios e açudes ou mesmo a suspensão temporária dos usos.


- Sudeste:

O Encarte chama a atenção para a forte interdependência dos mananciais utilizados para abastecimento das regiões metropolitanas de São Paulo, de Campinas, da Baixada Santista e de áreas adjacentes, que juntas formam a Macrometrópole Paulista; e para a garantia da oferta de água para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, fatores que evidenciam o papel estratégico das bacias hidrográficas do Alto Tietê, PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí) e do Paraíba do Sul para o atendimento simultâneo de todas as regiões.

O ano de 2014 se destaca por uma seca extrema na região sudeste com probabilidades de ocorrência superior a 100 anos. Por outro lado, observou-se nas regiões da bacia do rio Uruguai e Iguaçu, como também no noroeste do país, totais pluviométricos de grande magnitude, causadores de grandes inundações nestas regiões.

Já as bacias de contribuição dos principais reservatórios de abastecimento urbano do Sudeste como o Sistema Cantareira e os sistemas do Paraíba do Sul contaram em 2014 com precipitações próximas as mais baixas já registradas no histórico, o que impediu a recuperação dos níveis dos reservatórios.

No Sistema Cantareira registrou-se um valor de vazão média anual igual a 8,70 m³/s, que é o menor valor no histórico desde 1930, o que corresponde a cerca de 22% da média anual do histórico (39,44 m³/s) e a 40% da vazão média de 1953 (21,81 m³/s), que era, até então, o menor valor de vazão média anual do histórico.

A partir de maio de 2014 foi necessária a utilização de parte da primeira e da segunda etapa do volume morto desse Sistema, com o intuito de manter o abastecimento público no período mais crítico da seca.

No Paraíba do Sul, a Estação Elevatória de Santa Cecília realiza o desvio das águas do rio Paraíba do Sul para o Guandu, que possui capacidade de desviar até 160 m³/s com o objetivo de gerar energia, uso industrial e fornecimento de uma vazão média de 43 m³/s para a Estação de Tratamento de Águas - ETA Guandu.

Devido a limitações operacionais e por questões relacionadas à qualidade de água, a vazão afluente a ETA Guandu tem de ser bem superior a efetivamente utilizada.

O volume de água que aflui à EE Santa Cecília depende das defluências dos reservatórios de cabeceira e da contribuição incremental entre Funil e a estação elevatória.

Em 2014, a exemplo do que aconteceu no Sistema Cantareira, registraram-se valores de precipitação bem inferiores à média climatológica, o que reduziu significativamente os estoques de água acumulado nos reservatórios.

Desta forma, visando poupar os estoques dos reservatórios, a autorização da afluência meta definida para Santa Cecília foi reduzida sistematicamente ao longo do ano, para 173 m³/s (27/05/2014), para 165 m³/s (16/07/2014), para 160 m³/s (29/08/2014) e 140 m³/s (23/12/2014) e 110m³/s (27/02/2015).

Em termos de volume útil no Reservatório Equivalente do Paraíba do Sul, partiu-se 51,7% no final de dezembro/2013 para 2,59% no final de dezembro/2014. E atualmente está em 11,65% (19/03).

Reservatórios do Sistema Interligado Nacional – Os reservatórios do SIN possuem relevância não somente para a geração hidrelétrica, pois representam, em muitos casos, papel fundamental na garantia de água para os demais usos da água, seja pela capacidade de regularização dos corpos d´água ou pela disponibilidade hídrica nos lagos desses reservatórios.

Por isso, a ANA faz também o acompanhamento da situação dos reservatórios do setor elétrico, a partir das informações disponibilizadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS.

Além da queda acentuada na capacidade de armazenamento da Região Hidrográfica Atlântico Sudeste em 2014, identifica-se uma sequência de baixos valores no período de 2012 a 2014 para a Região Hidrográfica do São Francisco.

Como consequência, as vazões defluentes mínimas tiveram de ser mantidas em níveis reduzidos: em Sobradinho permaneceu em 1.100 m³/s (desde 08/04/2013), quando o normal é que a mínima seja de 1.300 m³/s, e deve cair para 1000 m³/s nos próximos dias; em Três Marias, após ajustes no mecanismo de captação da cidade de Pirapora, a CEMIG, agente responsável pela operação desse aproveitamento, flexibilizou o valor da restrição mínima de defluência de 350 para 120 m³/s.

Esses ajustes evitaram perda ainda maiores nos volumes acumulados nesses reservatórios. Em 2012, os principais reservatórios chegaram a ter volumes úteis superiores a 80%, mas, por conta da estiagem, os volumes foram reduzindo gradativamente até valores da ordem de 10% a 20% em O dezembro de 2014. Particularmente em Três Marias, a situação foi pior, tendo atingido 2,58% em 13/11/2014.

Também a partir desta sexta-feira, 20 de março, a Agência Nacional de Águas (ANA) lançará o site Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil e o relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos – Informe 2014. O objetivo do site é apresentar as informações mais atuais sobre diversos aspectos do setor de recursos hídricos, consolidadas pela ANA, de forma simples e objetiva.

No portal, há informações sobre seis grandes temas: quantidade de água, qualidade, usos do recurso, balanço hídrico, eventos críticos (secas e cheias) e gestão.





Fonte: Agência Nacional de Águas (ANA)

Endereço: