Lições Olímpicas podem ser aplicadas na empresa

Editoria: Vininha F. Carvalho 14/10/2004

Após 15 dias respirando o ar grego e os desafios humanos para superar marcas, já se pode falar das lições olímpicas e como estas deveriam ser utilizadas pelas empresas em seus planos, resultados e metas.Falo isto com bastante tranqüilidade, pois, como consultor, entendo que as empresas são formadas por
pessoas que conduzem processos e que precisam obter uma determinada performance; logo nada muito diferente sob o aspecto dos jogos olímpicos: atletas e comissão técnica buscando resultados.

O ponto-chave é neste mundo das empresas ou das Olimpíadas, nada se movimenta pelo mero desejo; a vida acontece a partir do resultado. É admissível até não se ganhar medalhas, mas os objetivos devem ser cumpridos, medidos, avaliados os erros, os acertos, alocadas as ações de melhoria... traçadas novas metas.

É claro que, aos olhos do público, ficam em evidência os atletas que sobem no pódio, assim como o mercado se orienta pela presença das empresas líderes, o que não elimina a presença dos demais
competidores e a visão dos futuros concorrentes.

A lição número um para os campeões e empresas líderes é que não é possível atingir um resultado sem planejamento, condições físicas e técnicas. Como um povo altamente emotivo, ainda tem-se a crença de que se ganha com o coração e a boa-vontade. Na realidade, mais uma vez, foi possível evidenciar que se as condições técnicas e físicas não forem suficientes a emoção é incapaz de estabelecer seus milagres. São as condições físicas e técnicas que permitem a execução conforme o padrão – a regularidade, de acordo com o
plano traçado. Foi assim com Ricardo e Emanuel, Torben Grael e Marcelo Ferreira, Robert Scheidt e a seleção brasileira de vôlei: nenhum resultado inesperado, mediante o histórico destes competidores.

Pessoas com alto nível técnico, experientes, condicionadas fisicamente, treinadas à exaustão e com objetivos bem definidos. Recordando, o técnico Bernardinho assumiu a seleção brasileira de vôlei após as Olimpíadas de Sidney para ser medalha de ouro na Grécia. Plano parecido foi estabelecido pelo velejador Robert
Scheidt. Portanto, foram necessários quatro anos de preparação destes atletas para tornar mágico os quinze dias de Olimpíadas.

Esta mesma prática deve ocorrer nas empresas: contratar os melhores possíveis, evidenciar seus talentos internos e capacitá-los conforme o plano de resultados a médio e longo prazos. Isto implica em ter objetivos definidos, rota de trabalho, processos e condições estruturadas para que as pessoas, motivadas para conquistar seus objetivos, possam tornar seus resultados alinhados com as expectativas empresariais.

E todo este percurso é fundamental, porque, do outro lado da história, descobre-se que o talento não é suficiente para sobrepor as adversidades impostas pelas condições físicas e técnicas. Por isso, mesmo que milhares de pessoas depositassem energias positivas, talentos como Guga, Daiane dos Santos e Jadel
Gregório não foram capazes de atingir as expectativas do público brasileiro.

A vontade, a boa intenção e os aspectos emocionais estavam presentes e estes são aliados importantes, porém não substituem as
condições física e técnicas, assim como a dedicação ao trabalho é insuficiente quando os processos de uma empresa não estão estruturados e o time não é composto pelas melhores cabeças.

A segunda lição decorre dos aspectos emocionais. É claro que o coração não é capaz de substituir a capacidade técnica, pois ninguém pode oferecer algo muito além dos resultados, que já possui,simplesmente pelo depósito de carga emocional sobre suas ações.

Em contrapartida, o desequilíbrio emocional é capaz de provocar grandes estragos. Novamente, o vôlei pode servir de exemplo, pois a seleção feminina brasileira perdeu um set inacreditável para a Rússia e, por decorrência, a chance de disputar a medalha de ouro.

A incapacidade de centrar-se e concentrar-se impediram o time de conquistar a vitória,assim como foi visto os atletas de melhor índice técnico, masculino e feminino, serem desclassificados nas
provas de 110 metros com barreiras, por errarem em suas passadas, concedendo, aos concorrentes, o garantido lugar no pódio.

Dentro das empresas o fator emocional deve ser profundamente trabalhado, pois não é possível dissociar pessoas e afetividade – grandes resultados e clima organizacional. É importante que as
organizações abram espaço para o desenvolvimento emocional de seus colaboradores, além da capacitação técnica.

As mudanças organizacionais são tão velozes como as situações dos jogos e se os aspectos emocionais não forem considerados, faltará maturidade para vencer.

E por fim, cabe ainda dizer que planejamento, condições técnicas e físicas mais equilíbrio emocional são fundamentais para atingir os objetivos, porém ainda estão sujeitos às condições ambientais que podem mudar todo o percurso. Assim, milhões de espectadores puderam assistir ao corredor Vanderlei Cordeiro de Lima ser empurrado por um manifestante, no terço final da maratona, retirando-lhe condições para atingir um melhor resultado.

Da mesma forma, as organizações, em suas jornadas vitoriosas, precisam estar atentas às condições ambientais. Isto significa se orientar muito além do simples posicionamento em relação aos concorrentes. É preciso traçar objetivos, cuidar das condições técnicas, físicas e emocionais e ainda criar cenários para
visualizar o inusitado.

No caminho da vitória, dos atletas ou das empresas, é preciso ultrapassar mais barreiras do que o simples desejo nos aponta.

*MARCUS VINICIUS P. OLIVEIRA – Laticinista, Psicólogo Organizacional e especialista em Qualidade & Produtividade. Lead Auditor em ISO 9001:2000 (IRCA – Inglaterra). Consultor responsável pela harmonização de sistemas de gestão da qualidade e segurança alimentar e de desenvolvimento de equipes. Diretor da
Liner Consultoria

Fonte: Por Marcus Vinicius P. Oliveira