Editoria: Vininha F. Carvalho 14/04/2005
A trajetória de João Paulo II, no comando da Igreja Católica acaba de terminar. Devemos confessar, que para uma religião que fez a opção pelos mais pobres e mais desfavorecidos, faltou ao Papa Viajante posições um pouco mais avançadas.
No entanto, é revelante ressaltar que nos vinte e seis anos que esteve à frente do Vaticano, foi incansável na missão de aproximar povos, culturas e sobretudo levar ao mundo, sua mensagem de paz.
Primeiro Papa não italiano em quatrocentos e cinqüenta e cinco anos, conseguiu Karol Wojtyla criar diversos fatos históricos na recente história da humanidade, que mudaram os rumos políticos do mundo como a criação do Solidariedade na Polônia, ou ainda, o desmoronamento do regime soviético.
Embora conservador, teve posições firmes no tocante a opressão que atormentava países do terceiro mundo mas foi um desafeto da chamada teologia da libertação que sem dúvida alguma teria ajudado um avanço maior do catolicismo.
Foram as cento e quatro viagens que realizou pelo mundo, visitando cento e trinta países e mais de setecentas cidades, que lhe permitiram percorrer um milhão e duzentos mil quilômetros, mostrando que é possível aproximar culturas e religiões diferentes.
Com as idas a Cuba, Índia e Oriente Médio, nosso líder itinerante pôde questionar ideologias e refletir melhor sobre o sentido da vida. Em Assis, por exemplo, se reuniu com líderes anglicano, ortodoxo e o Dalai Lama apelando para a chamada “trégua universal”.
O Brasil recebeu a visita de João Paulo II por três vezes. A primeira em 1980, deixou o Papa preocupado com a miséria e a riqueza reinantes no maior país católico do mundo. Em 1991, a capital federal pôde vê-lo numa missa na Esplanada dos Ministérios.
A visita de 1997 foi a que mais marcou o Brasil: o Santo Pontífice afirmou em missa no Aterro do Flamengo, um cartão postal da cidade maravilhosa que “se Deus é brasileiro, o Papa é carioca”.
A maior promoção institucional que um país pôde viver e que foi exibida para o mundo inteiro permitindo uma nova imagem do Rio, que infelizmente não foi bem aproveitada.
Apesar da doença, continuou viajando e pôde mostrar ao mundo que a tolerância está na aceitação e nas vivências de novas culturas. Um recado indireto para todos aqueles que cuidam da administração do tempo livre e gostam de viajar. Ele foi porta-voz de uma era em que as desavenças políticas e religiosas suplantaram o “modus vivendis” da maioria dos católicos.
O mundo deve ver em João Paulo II, um grande embaixador do turismo e uma pessoa voltada para a aculturação constante necessária na efetivação do produto turístico. Finalmente, o mundo deve perceber que João Paulo II desempenhou um papel importante para a humanidade, mas que poderia ter sido mais revolucionário.
Bayard Boiteux é diretor do Curso de Turismo da UniverCidade, no Rio e representante no Brasil, do CIRET – Centre International de Recherches et Etudes Touristiques