Editoria: Vininha F. Carvalho 23/01/2004
O Terminal Turístico do porto de Santos registra a maior movimentação de passageiros do Brasil. A cidade já é considerada a capital sul-americana dos cruzeiros marítimos. O diretor do Terminal, Flávio Brancato, fala sobre as perspectivas para as próximas temporadas e os reflexos do equipamento na economia da região
Como o sr.analisa o turismo de cruzeiros na região?
É uma atividade que vem crescendo se tomarmos por base os anos de 96 e 97, quando os cruzeiros retornaram ao Brasil, depois do segmento ficar parado durante muito tempo. A gente nota que os números vêm crescendo ano a ano e a tendência é continuar neste crescimento.
Porque o Terminal Turístico de Santos registra a maior movimentação de turistas do Brasil?
Fundamentalmente pela localização. A cidade de Santos é muito próxima da Capital e do Interior do Estado, considerados os principais pólos emissores de passagens para cruzeiros marítimos, até em função da economia destas regiões. As características do Porto também ajudam bastante. O Porto de Santos é o maior da América latina e a infra-estrutura favorece isto. O próprio advento do Terminal da Concais, em 1998, trouxe um elemento a mais para favorecer esta situação.
Como surgiu a idéia da construção de um Terminal Turístico em Santos?
Esse foi um processo que a própria Codesp deflagrou, a partir da Lei de Modernização dos Portos, com a privatização dos serviços do porto. Então começaram as concorrências e arrendamentos de espaços no Porto para que a iniciativa privada pudesse investir e alavancar o desenvolvimento do setor portuário. A partir daí surgiu a necessidade de um terminal de passageiros. A Concais participou da licitação e foi venecedora.
Qual a previsão deste segmento de turismo para o Brasil e para a Costa da Mata AtLântica (Santos e região)?
Extrapolando para o âmbito mundial, em todas as regiões onde este tipo de turismo é característico, o crescimento é notado de temporada para temporada. O Brasil não ficou atrás e começo a ser notado pelos armadores. Os navios são praticamente os mesmos e vão se deslocando ao redor do mundo conforme a época do ano, principalmente no verão. Descobriu-se que o Brasil seria uma fonte com potencial enorme para crescer. Ano após ano vemos o lançamento de novos navios, considerados mega-navios, que são destinados à centros bastante desenvolvidos como Mediterrâneo, Miami e Caribe. Estes navios vão começar a vir para o Brasil também.
A previsão é de um crescimento mundial na ordem de sete à oito por cento no segmento dos cruzeiros ao ano. Tendo em vista uma economia globalizada, este crescimento é bastante significativo. Já na Costa da Mata Atlântica, se formos comparar a temporada passada com esta, haverá um crescimento maior, de até 20 por cento.
Já existe a previsão de vinda de mega-navios para Santos?
Existe, mas é um processo de longo prazo. Precisamos imaginar que para isto ocorrer, há necessidade clara de crescimento do Porto como um todo, e não somente restrito ao Terminal. O Porto deveria oferecer condições para receber um navio destes, com investimentos da iniciativa privada que proporcionassem uma infra-estrutura adequada.
Existe alguma iniciativa dos poderes públicos no sentido de aproveitar estes turistas provenientes dos cruzeiros?
Este trabalho a gente acredita que está faltando. A gente tem apresentado isto para as entidades envolvidas. Uma delas é o Santos Convention Bureau. Esta é uma entidade que conseguiu uma coisa que por muito tempo se lutava na região – a metropolização do turismo com a união de todos os municípios. Hoje podemos observar no mundo inteiro que as pessoas não viajam para conhecer determinada cidade e sim a região. Ninguém fala que vai para a Itália, e sim para a Europa. Ninguém fala que vai para Fortaleza e sim para o Nordeste.
Faça uma comparação entre a demanda de atendimentos e a capacidade do Terminal?
Hoje nós temos um atendimento, em média, de 4 mil passageiros por dia, em operações de embarque, desembarque e trânsito. Hoje nós temos infra-estrutura para atender até 10 mil passageiros por dia, portanto o Terminal já está apto a atender este crescimento previsto.
Quais os reflexos da ampliação do Terminal, ocorrida nesta temporada?
Nós já podemos afirmar nesta temporada que expectativa criada com a ampliação para atendimento se mostrou perfeitamente válida. Está provado na prática que as instalações e a logística implantada com esta ampliação agilizou o atendimento dos passageiros. As operações de embarque e desembarque estão muito mais rápidas. O conforto também melhorou pois estamos oferecendo uma área maior, seja no salão de espera ou na área para o check-in. Também conseguimos aliviar substancialmente o tráfego de veículos no Terminal.
Já existem planos para novas ampliações?
Sim. A temporada 2004/2005, que deve começar em novembro, temos projetado a implantação do Terminal II no antigo Armazém Frigorífico da Codesp. É um prédio que dispõe de três pavimentos e contará com a mesma infra-estrutura que temos no atual terminal. O Terminal II vai aumentar em cerca de 80 por cento a capacidade de atendimento. Teríamos condições de atender até 16 mil passageiros por dia com uma certa tranqüilidade.
Hoje o Terminal tem capacidade para atender quantos navios simultaneamente?
Nos berços do Terminal podem atracar dois navios. Isto não significa que seja restrição na capacidade de atendimento do Terminal. Nesta temporada já tivemos três navios simultaneamente aqui no Porto de Santos. O terceiro navio parou no armazém 23, próximo ao Terminal. Neste dia atendemos quase 8 mil passageiros sem nenhum tipo de problema, correndo tudo dentro da normalidade.
Esta nos planos do Terminal fazer a prospecção de novos navios?
Normalmente quem faz este trabalho são as operadoras, mas evidentemente a Concais incentiva esta busca através de algumas ações, como feiras, congressos destacando a capacidade que o Terminal tem para atender uma demanda maior. Se não houvesse um bom terminal para o atendimento, muita gente deixaria de viajar.
Qual a importância de um Terminal como este para a cidade?
É mais um equipamento de porte para a cidade já que Santos é tida como a capital sul-americana dos cruzeiros marítimos. Isto acabou se tornando um marco para a cidade. Antigamente não havia na cidade um local adequado para este atendimento. Se o Terminal não existisse hoje, não conseguiríamos atender a demanda que está ocorrendo. Estatísticas da Secretaria de Turismo dizem que em cada temporada de cruzeiros há um incremento na economia da cidade de 15 milhões de reais. Além dos recursos provenientes dos turistas, vários serviços são ativados por causa do segmento.
Quantos empregos diretos e indiretos o Terminal oferece?
O Terminal oferece cerca de 90 empregos diretos. Já os indiretos são reflexos. Por exemplo: taxistas, agências de turismo, agências de navegação e fornecedores. Isto significa cerca de 3 mil empregos durante a temporada.
O que muda no Terminal com a implantação das normas de segurança anti-terrorismo determinadas pela ONU?
Este é um trabalho que está sendo desenvolvido pelo Concais desde outubro do ano passado. Quando muita gente acreditava que isto seria um problema para o segmento ou para a cidade, nós tínhamos uma visão diferente. No momento em que o Terminal estiver credenciado com o ISPS Code, passa ser uma nova referência para o segmento. A partir do momento que tivermos implantado as medidas e outros portos por ventura ainda não tiverem se adequado, estaremos saindo na frente.
A medida tem três fases. A primeira é a auditoria para saber quais medidas necessárias, que já foi feita. O relatório da auditoria deve ficar pronto neste mês. A segunda fase é a elaboração do projeto, previsto para ser concluído em maio. A terceira e última fase é a execução, que deverá acontecer até julho. Temos conhecimento de algumas determinações que o Terminal já cumpre, como sistemas de TV com monitoramento 24 horas, controle de entrada e saída de veículos e pessoas.
O terminal está adequado para fichar os passageiros norte-americanos, como determina portaria interministerial do Governo Federal?
Qualquer lei ou determinação judicial deve ser cumprida. Nós entendemos que tal exigência não acarretará nenhum tipo de problema. Nós dispomos de instalações para que Polícia Federal possa exercer o seu trabalho de forma tranqüila. Além disso, o fluxo de passageiros norte-americanos é muito pequeno. Para se ter uma idéia, em temporadas onde o Terminal movimentou cerca de 150 mil passageiros, apenas 100 foram norte-americanos. É um percentual muito baixo que não terá conseqüência para o Terminal. Acho que tem que haver uma solução diplomática entre Brasil e Estados Unidos.